15 fevereiro, 2022

𝑬𝒎 𝑸𝒖𝒂𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆𝒏𝒂 – 𝒖𝒎𝒂 𝒉𝒊𝒔𝒕ó𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒂𝒎𝒐𝒓, de José Gardeazabal



Autor: José Gardeazabal
Título: Quarentena - Uma História de Amor
N.º de páginas: 205
Editora: Companhia das Letras
Edição: Março 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3337)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Livro desafiador porque nem tudo está escrito. É preciso ler nas entrelinhas para captar toda a mensagem. Num tempo de confinamento obrigatório, a mente entra em ebulição. Tudo é revisto, tudo é analisado ao pormenor, tudo é questionado, tudo… mesmo o amor, sobretudo o fim de um amor.

Em Quarentena – uma história de amor, um casal que decidiu separar-se é obrigado a ficar em casa confinado. Ora, ficar em quarentena exige proximidade, partilha de espaços, vida em comum…
“Tínhamos decidido que um de nós faria a mala e abandonaria o apartamento. (…) Penduraram-nos um selo do lado de fora da porta.
Um Casal
0 Filhos
(…)
A nossa relação desapareceu pelo efeito preguiçoso do tempo – e agora isto: dão-nos mais tempo, os dois trancados no mesmo espaço.” (pp. 15 e 16)
A partir daqui, ao longo de 40 dias, temos o narrador que nos relata diariamente a partilha do espaço fechado com Mariana, a (ex)companheira, os seus pensamentos, os seus desejos, algumas boas memórias vividas a dois, a sua incompreensão do fim do relacionamento, a sua visão da política, da pandemia, da contradição dos números, o vazio das ruas, o sofrimento dos outros, a morte de muitos…

Há ainda registo dos diálogos, muito breves. Das dúvidas que se vão colocando sobre a situação actual, sobre o passado e sobre o futuro. A sós? Juntos? Afinal “Mariana é bonita”; “Mariana tem os olhos bonitos”, a boca também, mas está escondida pela máscara.

Ao longo dos dias, o narrador reaprendeu a olhar Mariana, quem sabe a amá-la… “Muita gente esquece o amor e esquece a história por detrás do amor, mas decidi não esquecer.” (p. 107)

Nesta quarentena (e certamente em todas as outras) há sempre uma televisão ligada, mas há sobretudo tempo para recordações, e das gavetas da memória surgem imensas referências literárias, artísticas, cinematográficas, musicais, única forma de se manter lúcido perante tanta incompreensão.

Numa escrita singular porque muito própria, o autor coloca o narrador numa posição de observador o que lhe permite interligar a realidade (distanciamento, factos, números), a introspecção (sentimentos, desejos) e as memórias (vivências conjugais).

Sendo este o primeiro livro que leio deste autor, fica a promessa e o interesse de o descobrir noutras leituras.



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