11 junho, 2021

𝑨𝒍𝒎𝒐ç𝒐 𝒅𝒆 𝑫𝒐𝒎𝒊𝒏𝒈𝒐, de José Luís Peixoto

 


Autor: José Luís Peixoto
Título: Almoço de Domingo
N.º de páginas: 257
Editora: Quetzal
Edição: 1.ª Março 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3274)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Este romance biográfico revela-nos uma narrativa que decorre no futuro. Os três capítulos que o compõem marcam três dias importantes da vida de um alentejano de Campo Maior, império dos cafés Delta.

26, 27 e 28 de março. Os dois primeiros dias antecedem uma data muito importante, o dia do aniversário do Sr. Rui. São 90 anos. 90 anos de uma vida cheia de acontecimentos memoráveis. 90 anos de memórias e de recordações que de forma magistral e com muita sensibilidade nos vão sendo narradas.
Nestes três dias, e numa estrutura muito bem arquitectada, vamos descobrindo, no presente, a rotina pessoal e profissional do biografado, pela visão do narrador, e o passado que flui através da memória do mesmo protagonista. A acção que acontece no presente traz à memória uma acção idêntica, mas com anos de distância. E assim, numa intersecção de presente e passado, ao sabor da memória do Sr. Rui (ou será que é ao sabor da escrita do autor?) vamos conhecendo a sua família, as suas casas, os seus amigos, os seus empregados, os seus afectos, os seus sonhos, a sua resistência à pobreza, a sua luta no contrabando, a sua generosidade, o seu sucesso. Fica claro que para este homem a sua família desempenhou e continua a desempenhar um papel fulcral. Através da sua memória ele mantém essa ligação. Nos seus pensamentos convivem os pais, os irmãos, o tio, a sempre presente e doce Alice, a sua esposa, os filhos, as noras, os netos e bisnetos.

Este romance transpira humildade e generosidade quer do autor quer do biografado. É um hino ao Alentejo, à sensibilidade, à beleza e à resistência da gente alentejana. É uma homenagem ao homem, ao patriarca de uma família, ao patrão de toda uma povoação. É uma ode ao amor, ao amor sincero de toda uma família, a do passado e a do presente, que se reúne num almoço de domingo para celebrar os 90 anos do homem que tão bem soube conduzir a sua vida e a dos outros.

“Há silêncio bom, a companhia e a importância uns dos outros. Incentivado pelo domingo, começo a dizer alguma coisa, talvez alguma história da escola, não importa o assunto, desta vez não importa o assunto, conta muito mais que, neste instante, estamos juntos, tenho a atenção do meu pai, da minha mãe, das minhas irmãs e do meu irmão, Olham-me e escutam-me, estão fixos em cada palavra que digo. Estamos juntos. Sem parar de falar, satisfeito e criança, baixo o olhar sobre as minhas mãos de dez anos.
Quando o senhor Rui levantou o olhar das mãos de noventa anos, a pele engelhada e as veias nas costas das mãos, tinha todos à sua frente: os filhos, os netos, as noras, os bisnetos.” (p. 238)

“Com noventa anos o senhor Rui estava rodeado pela sua vida.” (p.249)


Sem comentários:

Enviar um comentário