Autor: Cesare Pavese
Título: A Lua e as Fogueiras
N.º de páginas:159
Editora: Colecção Mil Folhas
Edição: Outubro 2002
Classificação: Romance
N.º de Registo: (1390)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐
Em A Lua e as Fogueiras, provavelmente um romance de carácter autobiográfico, Cesare Pavese confronta-nos com o mundo interior e exterior do protagonista.
Trata-se de um romance intimista, que retrata a vida solitária de um homem em busca de uma identidade que nunca encontrará mesmo quando regressa à sua terra natal e que, simultaneamente, relata a vida de uma comunidade rural.
“Não sabia que crescer queria dizer partir, envelhecer, ver morrer, encontrar Mora como estava agora. (p.72)
“Não sabia que crescer queria dizer partir, envelhecer, ver morrer, encontrar Mora como estava agora. (p.72)
A narrativa foca-se no regresso do protagonista, de 40 anos, que volta à sua aldeia natal, às suas raízes, após uma longa ausência de 20 anos, nos Estados-Unidos, para onde partira em busca de uma melhor vida, mas sobretudo com o intuito de apagar o nome de “bastardo” que todos lhe atribuíam e de inverter o seu destino votado à pobreza.
Assim, temos uma narrativa sobre a passagem do tempo regida pelas estações do ano, a angústia existencial de um homem que vive só, mas também a descoberta e a revelação de factos que compõem a sua memória e o seu passado. Na descrição do vale revisitado, estão vivos os sabores, os odores, os sons, as cores, a crença na lua e nas fogueiras que povoaram a sua infância.
“Que significa este vale para uma família que venha do mar, que nada saiba da Lua e das fogueiras? É indispensável tê-lo sentido com os ossos do corpo, tê-lo nos ossos como o vinho e a polenta. Então é possível conhecê-lo sem ser preciso falar dele, e quando andou dentro de nós muitos anos sem o sabermos, desperta agora ao chocalho de uma carroça, ao sacudir do rabo de um boi, ao sabor de uma sopa, a uma voz que se escuta na praça, à noite." (p. 51)
Nesta narrativa está ainda patente a critica a uma sociedade fragmentada que vive sob o espectro da guerra, e estratificada socialmente, determinada pela riqueza e pelo poder. É nas conversas que mantém com Nuto, seu amigo de infância e que reencontra na terra, que a crítica é mais evidente:
“- Lembras-te das conversas que tínhamos com o teu pai na loja? Ele já nessa altura dizia que os ignorantes nunca abandonariam a sua condição, visto que a força está na mão de quem tem interesse em que as pessoas não compreendam, nas mãos do governo, dos exploradores, dos capitalistas,…Então reinavam os fascistas e era preciso calar estas coisas…” (p.129).
É um livro interessante que nos faz reflectir. Sabendo que o autor se suicidou poucos meses depois da saída deste livro, não podemos dissociar a vida do protagonista da narrativa e a própria vida do autor.