28 junho, 2020

A Balada do Medo, de Norberto Morais


OPINIÃO



Neste livro, Norberto Morais transporta-nos de novo para um espaço imaginário. São Gabriel dos Trópicos é o país inexistente onde decorre uma parte da acção já que o protagonista, Cornélio Santos Dias de Pentecostes, passa muitos anos da sua vida, primeiro como suposto caixeiro-viajante, a circular pela região e mais tarde a fugir de uma morte anunciada. 
Ao longo da narrativa, o leitor fica deslumbrado quer pelas descrições dos locais quer pela caracterização das numerosas personagens pitorescas e extraordinárias presentes. 
O próprio protagonista é uma personagem fabulosa. Tem uma vida múltipla, com várias identidades, vive rodeado de mentira e de subterfúgios para trair a sua mulher e enganar as restantes mulheres que vai conquistando por onde passa. “Era com elaborado engenho que mantinha uma vida múltipla, conjugando afectos em todas as províncias do Norte, onde tinha mulheres aguardando-lhe o regresso. A solidão e a lonjura entre as cidades amparavam-lhe os pretextos” (p.9) 

Mas um dia tudo muda, e o folgazão passa a viver sob a égide do medo e do desespero de ludibriar o seu algoz e de assim escapar com vida. 

A leviandade e a falsidade protagonizadas por Cornélio são apresentadas com grande sentido de humor e uma grande mestria ao nível da escrita e da construção do romance. Porém, o autor pretende mais do que divertir com as peripécias amorosas da personagem, ele convoca o leitor a uma reflexão sobre a irracionalidade do ser humano perante a iminência da morte.


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