«como se atira o dardo com o corpo todo,
com a eternidade em não mais que nada,
e depois a abolição do tempo,
e então o que respira no corpo passa à vara,
e o que respira na vara passa depois à ponta,
tu não, tu já respiraste tudo pelo dardo fora,
mudo e cego e surdo,
e és um só ponto do alvo onde respiras todo,
e tudo respira nesse ponto,
em ti, veia da terra, oh
sangue sensível»
com a eternidade em não mais que nada,
e depois a abolição do tempo,
e então o que respira no corpo passa à vara,
e o que respira na vara passa depois à ponta,
tu não, tu já respiraste tudo pelo dardo fora,
mudo e cego e surdo,
e és um só ponto do alvo onde respiras todo,
e tudo respira nesse ponto,
em ti, veia da terra, oh
sangue sensível»
Se há poeta que não tem onde caiba e não se deixa apanhar por
rótulos, grupos, modas e... jornalistas é Herberto Helder. No entanto, não há
poeta que esteja tão próximo como ele da alma do mundo. A publicar livros desde
1958, aquele que é considerado o bardo da poesia portuguesa tem hoje 83 anos e
dá- nos agora, Servidões ( Assírio & Alvim), provavelmente o seu livro mais
confessional de sempre.
Como sempre este livro terá uma edição única de três mil exemplares, pois
Herberto não deixa que se façam segundas edições da sua obra.
Servidões abre com um insólito texto em prosa, no qual o poeta reflete sobre a
sua poesia, a sua vida, com as suas memórias, a sua ilha, as suas vozes a
irromperem o discurso linear imprimindo uma quase intimidade com os leitores.
Mais à frente, na página 20, há de dividir connosco o dia em que fez 80 anos:
“Saio hoje ao mundo/ cordão de sangue à volta do pescoço/ e tão sôfrego e
delicado e furioso/ de um lado ou do outro para sempre num sufoco,/ iminente
para sempre.”
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