(Imagem retirada da net)
Tudo o que tenho não tem posse:
o rio e suas ocultas fontes,
A nuvem grávida de Novembro,
O desaguar de um rio em tua boca.
Só me pertence o que não abraço.
Eis como eterno me condeno:
Amo o que não tem despedida
FOGO E ÁGUA
Cansa-me ser quem serei
Porque em tudo esse outro
Se parece com o que sou.
Cansa-me o adeus de quem nasce.
E a viagem, à nascença, morre de fadiga.
Resto eu em ti
Terra ardendo,
Chão de água e fogo
Abraça-me.
Abrasa-me.
GUERRA
Tenho mil anos.
Foi o que disse o menino.
O soldado riu-se: aterrorizado, o menino variava.
Ou desconhecia o alfabeto numérico.
Tenho mil anos, repetiu ele ante a ameaça da arma.
Se me matar, prosseguiu ele,
Vai-se abrir um buraco maior que o chão.
O soldado fitou os pés e viu o abismo.
Só então deu conta
Que ele mesmo era o menino que matava.
CHEGADA
Chegas,
Sóbria e sombria,
E desocupas em mim
A tua própria sombra.
Agora és a minha própria voz:
Nenhum silêncio nos pode calar.
Falas e acaba o tempo.
E eu escuto-te
Apenas quando te lembro.
in JL nº 1114
Preciosos. Todos.
ResponderEliminarÉ verdade... e isso estende-se a toda a escrita de Mia Couto.
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