Foi extremamente difícil comprar o último livro de Herberto Helder, editado pela Assíro & Alvim. Para quem vive fora dos grandes centros, torna-se quase impossível. Foi necessário deslocar-me à capital e aí calcorrear livrarias e grandes centros livreiros para ouvir sempre a mesma resposta: "lamentamos, mas está esgotado!". Até que me lembrei da existência de uma livraria, num centro comercial, um pouco escondida, mas com uma oferta de títulos de qualidade excepcional. E lá estava ele, em cima do balcão!
Não me lembro, durante a minha vida de leitora ( já razoavelmente longa)de ter procurado tanto... mas a alegria de, finalmente, o ter na mão compensa ...
Transcrevo o primeiro poema. Assim, quem não comprou o livro sempre poderá usufruir da escrita de Herberto Helder. (prometo transcrever mais)
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos são como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudez de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontradopor dentro do amor.
será que me poderia indicar que livraria é essa? é que ando desde há vários dias ferverosametne à procura desse livro em livrarias de todo o país, e ainda não tive qq sucesso... o meu e-mail é o seguinte: yasunarykawabata@gmail.com (agradecia-lhe do fundo do coração)
ResponderEliminarEnviei resposta para o email. Boa sorte!
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