06 abril, 2024

𝑳𝒆𝒏ç𝒐𝒔 𝒑𝒓𝒆𝒕𝒐𝒔, 𝒄𝒉𝒂𝒑é𝒖𝒔 𝒅𝒆 𝒑𝒂𝒍𝒉𝒂 𝒆 𝒃𝒓𝒊𝒏𝒄𝒐𝒔 𝒅𝒆 𝒐𝒖𝒓𝒐, de Susana Moreira Marques

 


Autora: Susana Moreira Marques
Título: Lenços pretos, chapéus de palha e brincos de ouro
N.º de páginas: 125
Editora: Companhia das Letras
Edição: Abril 2023
Classificação: Não ficção
N.º de Registo: (3536)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Descobri este livro na Bucholz no mesmo dia em que visitei a exposição “Mulheres do meu País”, de Maria Lamas patente na Fundação Calouste Gulbenkian. Já tinha visto a capa partilhada nas redes sociais, mas desconhecia o conteúdo. Entusiasmada pela sinopse, comprei-o de imediato, mas não o li logo porque outras leituras se interpuseram por questões profissionais. Assim, que surgiu a oportunidade peguei nele e saboreei-o. Sublinhei-o. Lentamente, desfrutei da viagem, isto é, das viagens que a autora e Maria Lamas me ofereceram. Com elas, mas sem saber exactamente com qual, percorri o meu/nosso país. É maravilhosa a forma como a autora mescla as duas viagens, as duas visões, as descobertas de ambas.

Este livro nasceu porque Susana Moreira Marques (SMM) foi convidada por Marta Pessoa para, a partir do livro de Maria Lamas, realizarem a mesma viagem pelo país em busca das mulheres e captarem imagens das quais resultaria o filme Um nome para o que sou.
Apesar do que já referi, este livro não é um relato de viagens. Tampouco se poderá afirmar que é exclusivamente sobre mulheres, mulheres retratadas e entrevistadas. Diria que se trata especialmente de narrações que resultam de reflexões, de apontamentos do que vive, de registos do que vê e das conversas que mantém, dos silêncios que capta, e sobretudo de busca interior, da tentativa de entender a sua avó através das mulheres que encontra e da explicação do passado à sua filha para uma melhor compreensão do presente e talvez do futuro.
“Narradora. Esse é um nome para o que sou.
Uma mulher que narra o que vê, o que ouve, o que pensa, também o que sente. (…) que não é imparcial. Que fica investida em personagens que passaram pelas mesmas experiências.” (p. 45)

É um livro sobre a memória de mulheres anónimas, trabalhadoras, sobre a memória da própria autora que revisita o seu passado quer através das imagens dos livros de Maria Lamas, quer através das mulheres que vai encontrando. “Como quase não tenho fotografias de família desse tempo, preencho as lacunas com as imagens que encontro.” (p. 39)

A viagem que SMM efectua vai permitir-lhe resgatar as suas raízes: “Talvez todas as viagens – no país ou fora do país – sejam feitas para termos a certeza de onde vimos.” (p. 25); vai, também, permitir manter viva as histórias de vida das mulheres, das agruras vividas, das palavras caladas, dos maus-tratos, da miséria, do analfabetismo, da ignorância. É importante relatar os factos “uma e outra vez para que não voltem a acontecer” (p. 60) E este é o principal legado, na minha opinião, que Susana Moreira Marques partilha com a sua filha e com os leitores do seu livro. É um livro que cruza passado, presente e futuro, que nos questiona sobre a nossa identidade, individual e colectiva, de todo um país.



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