20 maio, 2023

𝑬𝒊𝒄𝒉𝒎𝒂𝒏𝒏 𝒆𝒎 𝑱𝒆𝒓𝒖𝒔𝒂𝒍é𝒎, 𝒖𝒎𝒂 𝒓𝒆𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂𝒈𝒆𝒎 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒆 𝒂 𝒃𝒂𝒏𝒂𝒍𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒐 𝒎𝒂𝒍, Hannah Arendt

 


Autora: Hannah Arendt
Título: Eichmann em Jerusalém - Uma reportagem sobre o mal 
Tradutora: Ana Corrêa da Silva
N.º de páginas: 446
Editora: Ítaca
Edição: Abril 2017
Classificação: Não ficção
N.º de Registo: (3363)

OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐



Eichmann em Jerusalém, uma reportagem sobre a banalidade do mal suscitou grande controvérsia na opinião pública e nos círculos académicos, aquando da sua publicação. O julgamento de Eichmann, um dos maiores criminosos do regime hitleriano levou a autora a desenvolver uma reflexão do mal. A sua reportagem jornalística, quer sobre o julgamento quer sobre o próprio Eichmann, é lúcida, mas perturbante já que ao questionar os valores da humanidade, insinua o conceito de “banalidade do mal”

Eichmann, um dos obreiros da “solução final”, grande responsável pela deportação e morte de milhões de judeus, ao afirmar, friamente, no julgamento, que se limitou a cumprir ordens superiores, a cumprir a lei, como se fosse um trabalho vulgar põe em evidência, segundo Arendt, a “total falta de pensamento”, isto é, a incapacidade de pensar por si. O mal perpetrava-se, executava-se, matava-se de forma irrefletida, apenas pela força (auto)coerciva da ideologia totalitária. Assim, Eichmann bem como muitos outros nazis, no ponto de vista da autora, representavam uma nova espécie de criminosos que cometeram, sem sujar as mãos, actos cruéis, crimes monstruosos. Eram meros burocratas que cumpriam o que lhes era exigido. Eichmann, na sua auto-defesa, chegou mesmo a referir que era inocente e que sempre se esforçou para desempenhar as suas funções de funcionário com esmero e rigor, acrescentando, mesmo, que se não fosse ele a providenciar a deportação para os campos de concentração, seria outro qualquer.

Arendt no seu “pós-escrito” esclarece alguns aspectos em relação às fontes dos documentos entregues ao longo do julgamento, justifica a sua deslocação a Jerusalém para assistir e reportar o julgamento e aborda a questão da controvérsia causada pelo subtítulo que atribuiu à obra. Segundo ela, e citando-a “quando falo da banalidade do mal faço-o apenas ao nível estritamente factual, no intuito de chamar a atenção para um fenómeno que se impunha inescapável a quem quer que assistisse ao julgamento. (…) Eichmann não era estúpido. O que fez dele um dos maiores criminosos da sua época foi a total ausência de pensamento. (…) Que um tal afastamento da realidade e uma total ausência de pensamento possam causar danos ainda maiores do que todos os maus instintos que são talvez inerentes à natureza humana – eis a verdadeira lição a tirar do julgamento de Jerusalém.” (pp. 428 e 429)

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