24 maio, 2023

𝑶 𝑫𝒆𝒔𝒂𝒑𝒂𝒓𝒆𝒄𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑱𝒐𝒔𝒆𝒇 𝑴𝒆𝒏𝒈𝒆𝒍𝒆, de Olivier Guez

 

Autor: Olivier Guez
Título: O Desaparecimento de Josef Mengele
Tradutor: Mário Dias Correia
N.º de páginas: 223
Editora: Planeta
Edição: Setembro 2018
Classificação: Romance biográfico
N.º de Registo: (3126)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐



Olivier Guez narra-nos neste romance biográfico, a fuga aos tribunais de Josef Mengele, uma das figuras mais sinistra da Segunda Guerra Mundial. O médico nazi, conhecido nos campos de concentração como o “Anjo da Morte”, escolhia o destino das suas vítimas, encaminhando-os para a direita ou para a esquerda significava ou as câmaras de gaz ou os trabalhos forçados ou ainda o seu laboratório onde realizava pesquisas e experiências macabras a anões, deformados, gémeos, onde dissecou, torturou e queimou milhares de crianças. Foi um defensor zeloso e activo da “higiene racial” a política instituída pelo seu Führer. Inamovível e impenitente sempre considerou que agiu por amor à pátria e para “projectar a raça ariana na eternidade e para o bem da comunidade”. (p. 196)

A narrativa foca-se essencialmente na fuga de Mengele para a América do Sul. Primeiro para a Argentina de Péron que lhe facilitou a estada bem como a de muitos outros nazis que se esconderam neste país. Mergulhamos num mundo politicamente corrompido pelo fanatismo, ambição e muito dinheiro. Sob vários pseudónimos, Mengele leva uma vida clandestina, mas “doce” até que a perseguição recomeça e o obriga a fugir para o Paraguai e depois para o Brasil.
É o mito, o enigma do seu desaparecimento durante cerca de trinta anos que Guez tenta narrar. Ele próprio afirma “que há zonas de sombra que nunca serão esclarecidas” pelo que “só a forma romanceada me permitiria chegar o mais perto possível da trajectória macabra do médico nazi” (p. 217)

Guez é exímio na descrição minuciosa do homem minado pelo seu passado sem perdão, “condenado a uma existência encurralada. “ (p. 113). Apesar de nunca ter sido preso, a sua fuga para o Brasil, onde leva uma vida miserável, marca o início da “descida aos infernos”. Guez desconstrói toda a vaidade e o orgulho de Mengele e põe em evidência toda a sua vulnerabilidade, o pavor de ser preso, “o medo que todos os dias lhe rói as entranhas”. A vida de “ratazana” que passa a ter leva-o à loucura.

Mengele não foi julgado porque nunca o apanharam, mas será que a fuga compensou? Termino com a epígrafe citada na abertura da segunda parte intitulada ”A ratazana” e, que na minha opinião, é bastante esclarecedora.
“ O castigo corresponde ao crime: ser privado de todo o prazer de viver, ser levado ao mais alto grau de aversão pela vida” ( Kierkgaard).

Recomendo a leitura.



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