Autora: Jenny Erpenbeck
Título: Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai
Tradutora: Ana Falcão Bastos
Tradutora: Ana Falcão Bastos
N.º de páginas: 268
Editora: relógio d'Água
Edição: Novembro 2018
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3154)
OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐
Eu Vou, Tu Vais, Ele Vai é um livro pleno de interpelações sobre a forma como o Ocidente olha, recebe e trata os refugiados africanos.
A narrativa centra-se na figura do académico Richard, recentemente reformado e viúvo, que não sabe muito bem como ocupar os seus dias vazios, como passar o tempo. Até que um dia, sentado à mesa, ouve na televisão que “dez homens, ao que parece refugiados, reuniram-se e iniciaram uma greve de fome” (p. 24).
Richard culpabiliza-se por não ter visto estes homens e percebe que “Falar do que é verdadeiramente o tempo é uma coisa que provavelmente pode fazer melhor com aqueles que caíram fora dele. Ou, se se preferir, que estão encerrados nele.” (pp. 41 e 42)
Para saber quem são estes homens e o que se passa na Alexanderplatz bem no centro de Berlim, Richard lê sobre o tema dos refugiados e decide conversar com eles. Para isso, preparou uma série de questões, porque “é importante fazer as perguntas certas.”
Ao longo da narrativa, mergulhamos com Richard no mundo desses homens: o presente, às voltas com a vida, de um lado para o outro em busca de uma identidade, de um acolhimento; o passado, cruel, violento, de perdas e guerra.
Richard fala com eles em inglês ou italiano e um pouco em alemão com aqueles que vão aprendendo a língua nas aulas que lhes são facultadas. É da aprendizagem do verbo ir, numa dessas aulas, que surge o título do livro.
Numa escrita limpa, clara e intensa, a narrativa flui e tomamos conhecimento do grave problema que assola a Europa, e percebemos como é urgente encontrar uma resposta para esta crise política e humanitária.
A abordagem ao tema é clara e objectiva, não há acusações directas, não há “parti-pris”, não há opiniões pré-concebidas. Contudo, estamos perante uma denúncia política, uma tragédia humanitária que urge resolver.
Gostei da relação estabelecida entre a realidade dura e cruel dos refugiados e a ficção criada pelo protagonista. Sendo um (ex)professor universitário imerso nos livros e nos pensamentos, Richard vai atribuir aos homens que vai entrevistando nomes como Tristão, Ulisses ou Apolo. Assim, ele estabelece um paralelo com figuras e episódios da literatura clássica, aspectos do mundo que ele domina e que o orientam na violenta caminhada destes homens sem, no entanto, satisfazerem as suas dúvidas nem darem resposta à pergunta chave deste romance “Para onde vai uma pessoa quando não sabe para onde há de ir?”
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