20 janeiro, 2020

Os que Sucumbem e os que se Salvam, de Primo Levi



OPINIÃO

Com este livro concluí a leitura da trilogia de Auschwitz. Quarenta anos depois de ter escrito Se Isto é um homem, Primo Levi aborda de novo a problemática do Holocausto. Desta vez, tenta dar resposta às muitas questões que se lhe colocam constantemente sobre o extermínio causado pelos nazis. 

“Teremos sido capazes, nós sobreviventes, de compreender e de fazer compreender a nossa experiência?” (p.41)

Temos uma análise muito lúcida e dolorosa sobre os acontecimentos no Lager, sobre as atrocidades praticadas, sobre a desumanização, a humilhação e a “violência inútil” exercidas sobre os prisioneiros. No último capítulo “Cartas de alemães”, e no seguimento da tradução e publicação do seu livro Se Isto é um homem, na Alemanha (1959), Primo Levi, aborda também a questão da culpa em relação à opressão nazi. Nas várias cartas que recebeu e nas que transcreveu verifica-se que foi sentida e assumida por alguns, ignorada e negada por outros. 
Como o autor tem receio que estes factos caiam no esquecimento quer por parte dos sobreviventes como forma de atenuar a dor, quer por parte dos opressores para se distanciarem dos factos e assim aliviarem a culpa e a vergonha (se é que alguma vez as sentiram), então lega-nos o seu testemunho, nos dois primeiros livros, e as suas reflexões neste último para que a “memória colectiva” permaneça viva e passe de geração em geração. 

“À distância de quarenta anos, a minha tatuagem tornou-se parte do meu corpo. Não me vanglorio nem me envergonho dela, não a exibo nem a escondo. Mostro-a de má vontade a quem mo pede por simples curiosidade; prontamente e com ira a quem se declara incrédulo. Os jovens muitas vezes perguntam-me porque é que não a mando apagar, e isto espanta-me: porque havia de fazê-lo? Não somos muito no mundo a trazer este testemunho.” (p.138)



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