OPINIÃO
Por questões de trabalho, volto a ler este pequeno livro de poesia. Faço-o sempre com muito prazer, pois gosto da escrita do JLP. É um livro pleno de sensibilidade, com resquícios de tristeza e de saudade muito presentes no seu primeiro livro Morreste-me.
O autor partilha com o leitor a solidão e a dor causadas pela desintegração/separação da família: a perda do pai, a saída de casa das irmãs, o alheamento da mãe.
“na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.”
Para colmatar a saudade e a angústia dos lugares vazios, (“o teu sono anoiteceu mais que as mortes/que posso suportar e hei-de escrever-te/sempre e mais uma vez sozinho nesta noite”) o autor evoca a infância, relembra e (re)vive momentos de felicidade, de ternura e de amor. “recordas mãe a segurança /calada dos nossos abraços distantes?”
É impossível ficar indiferente a tanta melancolia e sensibilidade porque, afinal, em todos nós, há um pouco desta “criança em ruínas” que tenta sobreviver à tristeza e que acredita na existência da felicidade.
“um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.”
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