SINOPSE
Sob o signo da noite, Lília Tavares, em cada poema deste 5.º livro de poesia não reproduz o dizível, mas permite o indizível.
A autora desabriga-se no avesso da pele das suas memórias que numa eternidade gasta e passada a quiseram ocultar. O eu-poético, embora contido, traz à luz a sua ambivalência que se exprime mediante recursos simbólicos. A incompletude habita as suas raízes: vivências, memórias, viagens, amores.
Ainda são nocturnas estas viagens, revela. Menina e depois mulher, a autora decompõe-se em matéria subjectiva, como um todo desconhecido. A sua poesia serve-se de alguma economia das palavras para desconstruir uma teia de silêncios, entrelaçada em fios de desejo, de amores e de veredas.
Num novelo cingido pelo prefácio de Carlos Campos, desfiam-se 70 poemas onde se entremeiam 7 fotografias repletas de significado de Paulo Eduardo Campos, também ele poeta.
À sombra de uma dessas imagens, pode ler-se:
«Acordo nas ervas, anoiteço barco,
como árvore e terra despertaria amanhã.»
OPINIÃO
Apesar de ser de Sines, não conhecia Lília Tavares. Foi através do meu livreiro, Joaquim Gonçalves, que tomei conhecimento da apresentação do livro Nomes da Noite na sua livraria e com a presença da autora. Como sempre o tento fazer, leio previamente o livro em causa, em jeito de preparação.
E em boa hora o fiz porque fui agradavelmente surpreendida. Trata-se de um livro de poesia, dividido em cinco partes com um total de 71 poemas e 7 fotografias, estas de Paulo Eduardo Campos.
A noite, como o título o indica, é o elemento principal do livro. A sua presença regista-se em 65 poemas, quer através da palavra “noite” quer por outras de mesmo significado, tais como: lua, luar, lunar, nocturno, anoitecer, pernoitar. Nos outros 6 poemas, surge quase sempre a ideia de sol, manhã, dia, luz, amanhecer, isto é, o desejo, o encontro do “tu”, do “outro”, o recomeço, o despir da noite (“O amanhecer despe a noite como uma camisa de cambraia.” ; “ O amanhã trará no colo uma braçada de flores.”)
Poder-se-ia pensar que se trata de uma escrita triste, soturna, mas não, estamos perante uma escrita sensorial e intimista. A noite é melancolia, desassossego, inquietude, solidão, silêncio, abrigo, nudez, amor, corpos, cores, frutos, flores, mar, vento, espuma…
A noite é confidente, é cúmplice (“Noite semente, companheira, lugar, / amante que nos alberga e nos enlaça.”), é a personificação do “eu” (“Nos meus lugares espalhados. / Em partículas de mim. Eu. O outro nome da noite.”), mas também do “outro” (“o teu nome é a noite”; “ Este quarto tem a textura da noite. / Os dedos escrevem-te, beijam-te e/ tornam presentes os rumores da tua ausência.”).
E termino com este monóstico que serve de legenda a uma das 7 fotografias: "A lua cuida sempre de quem adormece nas linhas de um livro".