26 março, 2019

Nomes da Noite de Lília Tavares



SINOPSE



Sob o signo da noite, Lília Tavares, em cada poema deste 5.º livro de poesia não reproduz o dizível, mas permite o indizível.

A autora desabriga-se no avesso da pele das suas memórias que numa eternidade gasta e passada a quiseram ocultar. O eu-poético, embora contido, traz à luz a sua ambivalência que se exprime mediante recursos simbólicos. A incompletude habita as suas raízes: vivências, memórias, viagens, amores. 
Ainda são nocturnas estas viagens, revela. Menina e depois mulher, a autora decompõe-se em matéria subjectiva, como um todo desconhecido. A sua poesia serve-se de alguma economia das palavras para desconstruir uma teia de silêncios, entrelaçada em fios de desejo, de amores e de veredas. 
Num novelo cingido pelo prefácio de Carlos Campos, desfiam-se 70 poemas onde se entremeiam 7 fotografias repletas de significado de Paulo Eduardo Campos, também ele poeta. 

À sombra de uma dessas imagens, pode ler-se: 

«Acordo nas ervas, anoiteço barco, 
como árvore e terra despertaria amanhã.»



OPINIÃO


Apesar de ser de Sines, não conhecia Lília Tavares. Foi através do meu livreiro, Joaquim Gonçalves, que tomei conhecimento da apresentação do livro Nomes da Noite na sua livraria e com a presença da autora. Como sempre o tento fazer, leio previamente o livro em causa, em jeito de preparação. 



E em boa hora o fiz porque fui agradavelmente surpreendida. Trata-se de um livro de poesia, dividido em cinco partes com um total de 71 poemas e 7 fotografias, estas de Paulo Eduardo Campos. 
A noite, como o título o indica, é o elemento principal do livro. A sua presença regista-se em 65 poemas, quer através da palavra “noite” quer por outras de mesmo significado, tais como: lua, luar, lunar, nocturno, anoitecer, pernoitar. Nos outros 6 poemas, surge quase sempre a ideia de sol, manhã, dia, luz, amanhecer, isto é, o desejo, o encontro do “tu”, do “outro”, o recomeço, o despir da noite (“O amanhecer despe a noite como uma camisa de cambraia.” ; “ O amanhã trará no colo uma braçada de flores.”)
Poder-se-ia pensar que se trata de uma escrita triste, soturna, mas não, estamos perante uma escrita sensorial e intimista. A noite é melancolia, desassossego, inquietude, solidão, silêncio, abrigo, nudez, amor, corpos, cores, frutos, flores, mar, vento, espuma… 

A noite é confidente, é cúmplice (“Noite semente, companheira, lugar, / amante que nos alberga e nos enlaça.”), é a personificação do “eu” (“Nos meus lugares espalhados. / Em partículas de mim. Eu. O outro nome da noite.”), mas também do “outro” (“o teu nome é a noite”; “ Este quarto tem a textura da noite. / Os dedos escrevem-te, beijam-te e/ tornam presentes os rumores da tua ausência.”). 



E termino com este monóstico que serve de legenda a uma das 7 fotografias: "A lua cuida sempre de quem adormece nas linhas de um livro".





5 comentários:

  1. Grata, Grace (que possivelmente não estou a reconhecer), por esta opinião que me deixa feliz e que vou partilhar no meu perfil pessoal do FB: https://www.facebook.com/lilia.tavares.3

    Espero que se não nos encontrámos ainda, tal venha a ser possível em breve, pois conto com a A Das Artes para a apresentação do meu próximo livro, BAILARINAS DE CORDA (Poética Ed., 2019) que sairá em Lisboa dia 15 de Outubro na Livraria Buchholz.
    Deste livro, deixo consigo a SINOPSE:

    Bailarinas de Corda é o sexto livro de Lília Tavares.
    «Quando a autora nos convoca a ler estas mulheres, bailarinas de corda, convida-nos para um caminho dançante que nos vai apurando sentidos, sendo que - ao mesmo tempo que os aperfeiçoamos serenamente - vamos integrando partes de nós e conhecendo partes de outras, concomitantemente à descoberta da mulher autora - a que atende à natureza, a que está enlaçada com os outros na sua subtileza observante enquanto navega pelo sentir de cada uma das mulheres a quem tributa os seus poemas. (…) Bailarinas de corda são mulheres sábias, mulheres que se revelam no dar ao outro, mulheres que cuidam e outras que, numa passividade serena, são capazes de esperar pelo que a vida lhes possa aportar. Mas, algumas mulheres, como descreve a autora, só encontram consolo no luar, porque é grande o vazio sentido que só incrementa o cansaço. Outras ainda, são poetisas, psicanalistas, professoras, mães…. Umas, como refere a autora, visíveis desde a raiz, ao passo que outras, escondendo a sua essência, apenas mostram a beleza ao outro maquilhando o sofrimento. Revelam-se aqui mulheres, bailarinas de corda, distintas no que respeita ao seu sentir e ao agir, cujas palavras as vão modelando e transformando.
    A autora apresenta nesta obra um bailado de sentimentos que se entrelaçam, unidos por cordas de afeto ao mesmo tempo que nos são poeticamente apresentadas mulheres de cordas atadas que se auto aprisionam e que impedem voos tão belos como os das andorinhas, que a autora tão bem traça.»/ in Prefácio
    *
    Teria muito gosto em trocar algumas palavras consigo. Se também o quiser fazer, este é o meu endereço de email: liliatavares.letras@gmail.com

    Cumprimentos poéticos,

    LT

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    1. Olá Lília!
      Como referi, estive na Livraria A Das Artes no dia da apresentação do seu livro. Sou a Graciosa Reis. Falámos um pouco e trocámos mensagens via facebook.
      Fico a aguardar o próximo lançamento na livraria do Joaquim. Lá estarei com a certeza de também gostar deste livro. A sinopse assim o indicia.
      Retribuo os cumprimentos poéticos. Até breve.

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  2. Gracinda, lamento não a ter reconhecido. Melhor, não a ter associado.
    Havemos de ver-nos proximamente. Tenho de falar ao Joaquim um destes dias.
    Uma boa noite.
    Saudações poéticas.
    LT

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  3. É natural que não tenha associado os nomes. Pensei que talvez tivesse lido o texto quando o partilhei no facebook através do Goodreads.
    Até um dia destes.
    Saudações poéticas,
    Graciosa (e não Gracinda)

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    1. Graciosa, peço perdão pela troca do nome.
      Grande abraço!
      Lília

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