27 julho, 2020

O Desfile de Primavera, de Richard Yates


OPINIÃO

Neste romance, Yates logo no início, dá o mote em relação ao destino das protagonistas da narrativa. “Nenhuma das irmãs Grimes estava destinada a ser feliz”. 

E assim acontece, de facto. Apesar de muito diferentes e de terem tomado opções de vida antagónicas, o augúrio cumpre-se. Resta ao leitor descobrir as razões que tornam infelizes Sarah e Emily. A primeira, a mais velha, casou, teve filhos e assumiu o casamento como um acto “sagrado” pelo que suportou tudo... Emily, a mais nova e mais independente, opta por uma vida inconstante quer nas relações amorosas quer nos empregos. Admirada pela família, é considerada “a personificação da mulher liberta”. Mas esta liberdade vai transformá-la numa mulher infeliz e egoísta. Apesar da existência de um amor familiar, por vezes mais aparente do que efectivo, as mulheres da família, incluindo a mãe, divorciada há muito, caem no vício do álcool. Se assinalam um evento, uma festa, um encontro, celebram com álcool! Se fracassam ou se algo corre menos bem, mergulham no álcool! 

“Com a mãe em coma a uns trinta quilómetros, as duas abraçaram-se embriagadas e choraram pela perda do pai.” (p. 150) 

Assim, de forma sucinta e clara, o autor narra-nos a vida desta família, com destaque para a de Emily, e mostra-nos o essencial para compreendermos o destino das personagens. Sem contemplação assistimos à degradação das irmãs. Yates não poupa o leitor, apresenta descrições detalhadas de momentos de amor ilusório e transitório, de vivências emotivas e sofridas, mas, no final, o que prevalece é a melancolia e a solidão a que são votadas as personagens. 

“Tenho quase cinquenta anos e nunca compreendi nada em toda a minha vida” - termina Emily (p. 245).


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