O Prémio Camões 2015 foi atribuído por unanimidade à escritora Hélia Correia.
"Ideia fundamental dos romances de Hélia Correia desde A Casa Eterna: a vida só tem sentido se transformada em arte. Hoje, dia 18 de Junho de 2015, a arte transformou-se em Prémio Camões, justamente o grande autor português que escrevia os seus poemas com o corpo todo, queimando os dedos em cada verso." (Miguel Real, JL)
"A Hélia é um dos escritores que melhor trata a língua portuguesa, com uma obra muito diversificada – romance, poesia, obras dramáticas, contos, literatura infanto-juvenil". "O português dela é muito fecundo. Tem um estilo próprio, com uma grande precisão de linguagem. Cada frase tem o número exacto de sílabas. Ela leva o rigor da escrita a esse ponto". Além de que "consegue criar personagens muito originais que vão ficar na literatura portuguesa", refere Francisco Vale, editor da Relógio d'Água (edita a obra da escritora desde 1983).
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I
Epidauro
Contra o céu de Epidauro, enquanto o grito
Dos pássaros nocturnos fere o ar,
Eu, acordando, encontro o teu olhar,
Mais do que o céu sereno e infinito.
Sobre o calor das pedras eu repito
Aquele deslumbramento de acordar
Que alguma outra mulher, neste lugar,
Num outro tempo de palavras e mito
Junto ao corpo do amado conheceu,
Igual. Ou quase igual. Que um tal desejo
Essa outra mulher o não sentiu
Se o corpo onde acordou não era o teu.
Contra o céu de Epidauro acordo e vejo
O mais divino olhar que alguém já viu.
Hélia Correia, JL 24 junho 2015 (inédito)
(Epidauro- 2006 - Foto GR)
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