Depois da vitória de Portugal sobre a Holanda,lembrei-me de um poema de Al Berto...
“[...]
A noite cerca a mão inteligente do homem que possui uma cabeça transparente.
Em redor dele chove.
Podemos adivinhar um chuva espessa, negra, plúmbea.
Depois, o homem abre a mão, uma laranja surge, esvoaça.
As cidades como em todos os livros que li ardem.
Incêndios que destroem o último coração do sonho.
Mas aquele que se veste com a pele porosa da sua própria escrita olha, absorto, a laranja.
.
.
A queda da laranja provocará o poema?
A laranja voadora é, ou não é, uma laranja imaginada por um louco?
E um louco, saberá o que é uma laranja?
E se a laranja cair? E o poema? E o poema com uma laranja a cair?
E o poema em forma de laranja?
E se eu comer a laranja, estarei a devorar o poema? A ficar louco?
E a palavra laranja existirá sem a laranja?
E a laranja voará sem a palavra laranja?
E se a laranja se iluminar a partir do seu centro, do seu gomo mais secreto, e alguém a esquecer no meio da noite – servirá o brilho da laranja para iluminar as cidades há muito mortas?
E se a laranja se deslocar no espaço – mais depressa que o pensamento, e muito mais devagar que a laranja escrita - criará uma ordem ou um caos?
[...]
Al Berto
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