09 outubro, 2025

László Krasznahorkai vence Prémio Nobel da Literatura 2025

 




László Krasznahorkai é o grande vencedor do prémio Nobel da Literatura de 2025. A Academia Sueca distinguiu-o “pela sua obra convincente e visionária que, em meio do terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.

László Krasznahorkai nasceu em 1954, em Gyula, no sudeste da Hungria, perto da fronteira com a Roménia. Estudou direito e literatura em Budapeste antes de, em 1987, ter trocado a Hungria por Berlim e ter passado os anos noventa a viajar pelo Japão e pela China.

A sua obra conta com romances, ficções breves e guiões, estando dois deles traduzidos para português - Herscht  07769 (Cavalo de Ferro) e O Tango de Satanás (Antígona), adaptado para o cinema pelo realizador Bela Tarr.

A Real Academia Sueca de Ciências apontou, inclusive, que "uma zona rural remota semelhante é o cenário do seu primeiro romance, Sátántangó, publicado em 1985, que foi uma sensação literária na Hungria e a obra que marcou a consagração do autor".

A Real Academia Sueca de Ciências destacou que o livro Herscht 07769 é encarado "como um grande romance alemão contemporâneo, devido à sua precisão ao retratar a agitação social do país". É um livro, escrito de uma só vez, sobre violência e beleza 'impossivelmente' conjugadas", complementou.



08 outubro, 2025

Ana Paula Tavares vence Prémio Camões 2025

 

                                         FOTO: VASCO NEVES / ARQUIVO DN


A poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares é a vencedora da 37.ª edição do Prémio Camões, o mais prestigiado galardão literário de língua portuguesa

"O prémio distingue a sua trajetória fecunda e coerente na criação estética, sublinhando o resgate da dignidade da poesia e a relevância antropológica e histórica da sua obra, que inclui poesia, crónica e ficção narrativa", refere o júri, num comunicado enviado pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB).

Notícia completa em Diário de Notícias


07 outubro, 2025

𝑨 𝑱𝒂𝒏𝒈𝒂𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝑷𝒆𝒅𝒓𝒂, de José Saramago

 


Autor: José Saramago
Título: A Jangada de Pedra
N.º de páginas: 330
Editora: Caminho
Edição: Outubro 1986
Classificação: Romance 
N.º de Registo: (329)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


E se a terra que pisamos decidisse partir? Em 1986, ano em que Portugal e Espanha aderem à então Comunidade Económica Europeia (CEE), José Saramago publica A Jangada de Pedra, romance que transforma a Península Ibérica numa ilha errante. A separação literal da Europa torna-se metáfora da sua posição periférica, da identidade em risco, da escuta que se exige.

Neste romance, Saramago apresenta-nos uma alegoria poderosa sobre pertença e deslocação. O enredo narra a ruptura física da Península Ibérica com o continente europeu e acompanha seis personagens — Joana Carda, José Anaiço, Joaquim Sassa, Pedro Orce, Maria Guavaira e um cão — que, por razões diversas, se sentem ligadas ao fenómeno. Cada uma, com o seu mistério e origem distinta, acaba por cruzar-se numa travessia insólita pela península à deriva.

“Chegou o momento de dizer, agora chegou, que a Península Ibérica se afastou de repente, toda por inteiro e por igual…” (p. 36)

Temos, assim, dois planos narrativos entrelaçados: o real e o maravilhoso. A fantasia serve de lente crítica, permitindo a Saramago atribuir poderes extraordinários às personagens e transformar a Península numa jangada de pedra que flutua no Atlântico. A viagem, esse gesto tão Saramaguiano, emerge como reconhecimento, como busca de sentido, como aproximação ao outro. Individual primeiro, colectiva depois. Sonho, deslocação, esperança.

A intenção do autor ultrapassa largamente a aventura dos companheiros. Com humor e ironia, Saramago evidencia a incapacidade da Europa em lidar com o inesperado, denuncia o oportunismo dos Estados Unidos e de outras potências, e reflecte sobre o impacto da mudança nos vínculos humanos e sociais.

“Portugal e a Espanha foram dois países de pernas para o ar.” (p. 315)

No fundo, o romance questiona as consequências da integração europeia: Será legítimo abdicar da identidade em nome de uma Europa unificada?

A Jangada de Pedra inscreve-se num contexto político, ideológico e social específico, mas a sua inquietação permanece actual. Saramago revela uma profunda consciência crítica sobre o desenvolvimento de Portugal e uma preocupação constante com a posição e a identidade da Península Ibérica no seio europeu.

Apesar de não ser, para mim, a obra mais fulgurante de Saramago, nela ecoa uma inquietação que merece ser escutada. Recomendo a leitura como quem oferece uma jangada: não para fugir, mas para pensar em conjunto.

“Todos acabamos por chegar aonde queremos, é tudo uma questão de tempo e paciência.” (p. 275)