17 dezembro, 2023

𝑳í𝒃𝒂𝒏𝒐, 𝑳𝒂𝒃𝒊𝒓𝒊𝒏𝒕𝒐, de Alexandra Lucas Coelho

 


Autora: Alexandra Lucas Coelho
Título: Líbano, Labirinto
N.º de páginas: 487
Editora: Caminho
Edição: Junho 2021
Classificação: Viagem/Reportagem
N.º de Registo: (3344)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐

Líbano, Labirinto situa-se entre a revolução e a explosão de 4 de agosto de 2020, no porto de Beirute. Tendo tido pelo meio a pandemia que agravou em muito a derrocada económica do país. Em ambas as situações, Alexandra Lucas Coelho (ALC) deslocou-se ao país, como repórter. Foi a partir das múltiplas conversas que teve em Beirute que escreveu este livro.

Após a explosão no porto, ALC que se encontrava em Portugal percebeu que tinha de partir, de novo, para ver com os seus próprios olhos (não podemos esquecer que o acontecimento foi amplamente noticiado), para sentir e captar tudo. Lá, constatou a enorme devastação da cidade, completamente em ruínas, e a vida miserável da população que permaneceu na cidade, mantendo, apesar de tudo, a esperança numa recuperação.

É nesta toada de deambulação pelas ruas, de recolha de imagens e de depoimentos, de conversas com amigos, revolucionários, mulheres, homens da rua, artistas, poetas, … que ALC nos oferece a sua visão, a sua leitura sobre o Líbano, o Médio Oriente, uma paixão que já tem cerca de 20 anos.

Líbano, Labirinto é um excelente trabalho que põe em evidência a crise, a miséria, a destruição, os mortos, a violência, o papel da mulher, as mudanças histórico-sociais sofridas ao longo dos tempos, as seitas religiosas (18), a cultura, …

A autora recorre à crónica, à reportagem, ao testemunho e à memória difusamente ilustradas com fotografias a cores (350). Numa entrevista à Visão, ALC referiu que não encara este livro como jornalismo, mas sim como não-ficção, isto é mais próximo da literatura. Ainda, segundo ela, esta diferença permite-lhe escrever com total liberdade e assim, “o livro seguiu para onde senti que tinha de ir”.

Ao longo das páginas, o leitor percebe que a opinião de ALC sobre o labirinto que o Líbano vive, não é de agora, não se deve essencialmente a estes poucos dias que esteve no país, mas deve-se às suas vastas leituras, e sobretudo aos anos que dedicou e viveu na região (Líbano, Israel e Palestina)
Concordemos ou não com a sua opinião, não permanecemos indiferentes ao “Mapa de uma história que parece condenada a renascer das cinzas, a voltar às cinzas.” (p. 13); à hospitalidade das suas gentes que partilham o pouco que têm; à esperança de quem acredita que tudo pode renascer.

ALC ganhou com este livro o Prémio Oceanos e na altura o júri referiu, entre outros aspectos, que “a autora constrói um livro poderoso sobre os afetos e a guerra, a angústia e a esperança.” Concordo perfeitamente. É um livro pleno de sensibilidade que nos faculta conhecimentos sobre um povo e um país complexo em constante convulsão, refém de uma divisão religiosa.



2 comentários:

  1. Desconhecia o seu formidável blogue. Estou a segui-o, claro. O meu é mais sobre Educação Ambiental. Porém, sou um leitor compulsivo. Grato por esta sugestão. Já coloquei o Fragmentos no meu Dossiê aqui: https://bioterra.blogspot.com/2004/01/escritores-portugueses-e-internacionais.html
    Boas Festas!

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  2. Obrigada, João
    Trata sobretudo do que me dá prazer na vida. Funciona como uma evasão à confusão e à burocracia da minha e penso que também sua profissão. Também gosto muito de ler.
    Vou procurar o seu blogue.
    Desejo-lhe um Ano com muitas e BOAS leituras.

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