03 abril, 2020

Serotonina, de Michel Houellebecq




OPINIÃO


Em Serotonina, o protagonista Florent-Claude Labrouste, de 46, engenheiro agrónomo está completamente deprimido e desiludido com a vida e com tudo o que acontece no seu mundo.
“Seria eu capaz de ser feliz na solidão? Não acreditava nisso. Seria capaz de ser feliz no geral? É o tipo de perguntas que, creio, devem evitar fazer-se.” ( p.73)
Num texto irónico e provocador o autor narra, na primeira pessoa, o fracasso sexual e profissional de Florent, bem como os temas sociais e económicos que agitam a sociedade francesa.

Florent refugia-se nos anti-depressivos e no álcool numa tentativa de ultrapassar as suas angústias existenciais. “A minha reflexão ganhou profundidade pouco a pouco graças ao calvados, que é um álcool poderoso, profundo e injustamente ignorado”(p.61.

Numa tentativa de mudança radical de vida, ele rompe com Yuzu, a mulher com quem vivia, abandona o emprego, vende a casa e instala-se num hotel, mas a situação vai-se agravando e o novo comprimido Captorix que liberta serotonina ajuda-o a ultrapassar as suas crises, mas não só não lhe resolve o problema da solidão como elimina a sua libido.
“É um pequeno comprimido branco, oval, divisível. (…)
Mostrou-se logo de uma eficácia surpreendente permitindo aos doentes integrar com uma facilidade renovada os ritos maiores de uma vida normal… Os efeitos secundário indesejáveis mais frequentes observados do Captorix são as náuseas, a diminuição da libido e a impotência.
Nunca tinha tido náuseas.” (pp. 9 e 10)
Florent ilustra a decadência humana, a desumanização da sociedade, o medo do futuro.



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