21 dezembro, 2021

𝑳𝒆 𝑷𝒂𝒚𝒔 𝒅𝒆𝒔 𝑨𝒖𝒕𝒓𝒆𝒔, Leïla Slimani



Autora: Leïla Slimani
Título: Le Pays des Autres
N.º de páginas: 407
Editora: Gallimard (Folio)
Edição: Março 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3299)


OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐


Le Pays des Autres é o primeiro livro de uma prevista trilogia, sustentada numa história familiar (a da própria autora) que tem como pano de fundo a independência de Marrocos, de 1944 a 1955.

O livro narra a história de Mathilde, uma jovem francesa, oriunda da Alsácia, que se apaixona, em 1944, pelo oficial Amine Belhaj, um marroquino que combatia no exército colonial francês na Segunda Guerra Mundial. No final da guerra, o jovem casal vai viver para Meknes, em Marrocos, uma colónia francesa.
Mathilde cedo percebe que este não é o seu mundo. Sente-se sufocada pela aridez da terra e do clima, pelas dificuldades em construir e manter uma harmonia familiar, em aceitar os usos e costumes religiosos e culturais, sobretudo em relação à mulher. Vista como inimiga pelos nativos porque é francesa e como uma selvagem pelos colonos franceses porque casou com um marroquino, é assim, rejeitada e criticada por todos. É, por isso, natural que se instale no seio familiar um confronto constante e doloroso, onde os sonhos são constantemente adiados. Este confronto, já por si, difícil de gerir, vai intensificar-se com a situação política, nas lutas de libertação que levarão o país à independência do protetorado, provocando conflitos entre marroquinos e franceses. Mathilde e Amine vão viver intensamente este conflito, vão tentar sobreviver à constante e ambígua luta interior entre amor e rejeição, submissão e emancipação, respeito pela identidade do outro e fidelidade às tradições culturais e religiosas.

O enredo deste livro entranha-se no leitor e permanece muito para além da última página. A escrita de Slimani, sem deixar de questionar e de narrar a verdade, revela uma grande humanidade e subtileza na caracterização das personagens, na descrição dos actos de violência, na submissão da mulher ao poder do homem. O título representa os dois lados desta ambiguidade porque representa o país que não é certamente o de Mathilde, mas também o país que não é dos marroquinos porque se encontra ocupado pelos franceses.



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