15 maio, 2024

𝑩𝒐𝒎 𝑫𝒊𝒂 𝑪𝒂𝒎𝒂𝒓𝒂𝒅𝒂𝒔, de Ondjaki

 


Autor: Ondjaki
Título: Bom Dia Camaradas
N.º de páginas: 143
Editora: Caminho
Edição(5.ª): Novembro 2021
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3541)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐





12 maio, 2024

𝑷𝒂𝒖𝒍𝒂 𝑹𝒆𝒈𝒐 - 𝑨 𝑳𝒖𝒛 𝒆 𝒂 𝑺𝒐𝒎𝒃𝒓𝒂 - 𝑼𝒎𝒂 𝑭𝒐𝒓𝒎𝒂 𝒅𝒆 𝑶𝒍𝒉𝒂𝒓, de Cristina Carvalho

 


Autora: Cristina Carvalho
Título: Paula Rego - A Luz e a Sombra - Uma Forma de Olhar
N.º de páginas: 153
Editora: Relógio d'Água
Edição: Novembro 2023
Classificação: Biografia
N.º de Registo: (3511)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Gosto dos romances biográficos escritos por Cristina Carvalho. Já li alguns e tenho outros em lista de espera. Este, e, apesar de ser o último publicado, teve de ultrapassar os que aguardam pacientemente a sua hora. É que também gosto da obra da Paula Rego. E cada vez que tinha de escolher a próxima leitura, este piscava-me o olho.

Adorei. O facto de Cristina Carvalho colocar os seus biografados a narrar a sua própria vida resulta muito bem. Este não foge à regra. Há contudo intervenções da escritora que, em diálogo com a narradora, acrescenta informação, emite opinião. Gosto desta abordagem.

Ao longo da leitura, deixamo-nos iludir que é mesmo a pintora que nos narra a sua história. Há uma maior intimidade, diria, com o leitor. Acompanhamos as suas dúvidas, as suas angústias, a sua raiva, os seus medos de forma intensa, tal como ela os viveu. Aceitamos as suas explicações e compreendemos bem melhor a sua obra.

Outro aspecto que me agrada bastante é a proximidade que se adivinha entre a escritora e a pintora. Não sei se conviveram, nem é importante, mas fica a sensação de ambas terem muito em comum (a Ericeira, a frontalidade, a liberdade e a paixão que revelam naquilo que fazem - uma na escrita e a outra na pintura e nos desenhos). Por vezes, questionei-me se não era a vontade e o pensamento da própria escritora que estava a ler. E essa capacidade de confundir o leitor torna a sua escrita fascinante.
Através do relato da vida de Paula Rego, registamos, simultaneamente, a vida de um país e sobretudo a condição da mulher.
“Nesses quadros, nas gravuras que desenhei, em tudo, tudo o que fiz na minha Arte onde represento, na maior parte das vezes de forma grotesca e brutal, a vida tal e qual é: grotesca e brutal, ainda que tome, por vezes, aspectos de porcelana fina enfeitada de pechisbeques-pessoas, pechisbeques-coisas, tudo fugaz e com pouco ou nenhum significado, Porque, para mim, os grandes significados foram, são, tudo o que consegui imaginar e transportar para as minhas telas.
Está lá tudo.” (p. 11)

Depois desta leitura, resta-me admirar a sua obra (conheço pouco e de forma supérflua); tentar descobrir nela tudo o que nos foi revelado; captar os silêncios, os gritos de dor, a angústia da sua existência. Ficou claro e bem claro que Paula Rego só pinta e desenha o que quer e quando quer. “

Recomendo muito a leitura deste brilhante tributo à mulher, à mulher artista que foi, e ainda é, Paula Rego. Cristina Carvalho refere no final que este livro “ não pretende revelar a intimidade da artista”, apenas faculta algumas vivências que permitem ao leitor imaginar a vida da artista. E foi muito bem conseguido.



06 maio, 2024

𝑨 𝑯𝒊𝒔𝒕ó𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝑹𝒐𝒎𝒂, Joana Bértholo

 

Autora: Joana Bértholo
Título: A História de Roma
N.º de páginas: 306
Editora: Caminho
Edição: Setembro 2022
Classificação: Romance
N.º de Registo: (3440)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐


Sou sempre surpreendida com os livros de Joana Bértholo. Este não foi exepção. Com uma escrita poética, sensível, irreverente e provocadora, a autora conquista-nos com as várias histórias que integram A História de Roma.

Neste romance de “várias geografias”, erramos pelas ruas de Buenos Aires, de Berlim, de Marselha, de Beirute, de Lisboa onde os dois protagonistas se reencontram dez anos mais tarde e de Maputo.

No reencontro que dura dez dias, em Lisboa, os dois desenovelam memórias, nem sempre coincidentes, (“Ao sexto dia fiz esta experiência: seria a incompatibilidade das nossas recordações uma questão de distância? Geográfica, temporal, emocional?”(p. 199)), e, nesse recordar, a autora é exímia na narração dos acontecimentos vividos e inventados. Misturando tempos e açcões passados e presentes, o leitor deixa-se conduzir página após página e acompanha “os percursos que preenchem dez dias” definidos por Joana, a protagonista ou a escritora? É difícil discernir se acompanhamos a personagem ou a própria autora, já que ambas se chamam Joana, têm o prazer da escrita e da deambulação por geografias diversas e denotam preocupação ecológica. Pelo que as fronteiras entre realidade e ficção poderão ser muito ténues. Mas isso é importante? Não, não é.

O importante mesmo é apreciar a escrita e deixar-se inebriar pela história narrada, a história de amor vivida por um casal jovem e moderno “Ele e eu fomos próximos da forma desapegada e intermitente que é a única que tenho de ser próxima de alguém.”; pela forma como a narradora nos revela a sua decisão de não ser mãe, uma “não-mãe” por questões ambientais: “É fácil encontrar estudos que defendem que a maior contribuição para a redução da emissão de carbono de um indivíduo num país industrializado é não ter filhos” (p. 197); pela forma como se agarra à inevitável questão “Como foi que o nosso amor anoiteceu?”.

A História de Roma é um livro com várias camadas entrelaçadas que levanta imensas questões e nos faz reflectir sobre o mundo, a sociedade em que vivemos.
É um livro que revela uma história de amor (anagrama de roma) que, de lugar em lugar, descreve vivências, emoções, desejos, fantasias, encontros e desencontros, buscas obsessivas, mas é também a história da filha que nunca tiveram, ela, Joana, e ele, o rapaz e artista suíço que conheceu nas ruas de Buenos Aires.
“(…) acreditava que, se um dia fosse mãe, lhe daria o nome de lugar. (…) Odessa ou Roma, se rapariga”. (p. 11)

É, em suma, uma história de relações, de identidades, de lugares, de pessoas recuperada pelas memórias verídicas e imaginadas de Joana. Joana que até podia chamar-se Lisboa.

Recomendo muito a leitura deste livro, deste e de todos os que a autora já publicou.





05 maio, 2024

Mãe!

 

                                                                        Foto GR



mil estrelas no colo

mãe, eu sei que ainda guardas mil estrelas no colo.
eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas são
todas as estrelas que existem.


in A Casa, a Escuridão, José Luís Peixoto