16 agosto, 2020

Eusébio Macário, de Camilo Castelo Branco



OPINIÃO

Para além da escrita magistral, gostei sobretudo do tom sarcástico e divertido. Camilo Castelo Branco, neste livro, ataca fortemente a estética naturalista/realista que tentava impor-se na época e critica a ascensão oportunista da família Macário bem como os novos-ricos vindos do Brasil. 

A narrativa situa-se sobretudo no meio rural minhoto. Aí vive Eusébio Macário, um boticário viúvo, com a sua filha Custódia “rapariga pimpona, de muito seio e braços grossos, roliços, com pregas de carnação mole nos cotovelos e uma penugem de frutas mimosas que lhe punha umas tonalidades cupidíneas, irritantes” e com o filho José Macário, o Fístula, que estudou para padre em Braga, mas investiu sobretudo numa vida boémia, “em orgias de frigideiras”; o padre Justino “um patusco com chalaça”; Felícia, a amante do padre “uma mulheraça frescalhona, de uma coloração sanguínea, anafada, ancas salientes, de trinta e cinco anos, muito lavada, a cheirar às frescuras do linho perfumado de alfazema”; Bento, o mano de Felícia, regressado do Brasil, comendador e rico, gordo e ignorante, recebido na povoação com grandes honras. 

Ao longo da narrativa, o autor apresenta-nos uma família interesseira, hipócrita, que se move por valores imorais para ascender na vida e assim alcançar um novo estatuto social. Para além de satirizar os costumes da época, o autor aproveita para parodiar também os novos valores do realismo: longas e por vezes exaustivas descrições (das ervas, das flores, das doenças, das mezinhas e remédios…); descrição das personagens, traços físicos e psicológicos; riqueza lexical, vasta adjectivação, regionalismos entre outros aspectos. 

Agora resta-me ler A Corja para saber o que vai acontecer à família Macário. 

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