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08 abril, 2019

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres de Clarice Lispector



SINOPSE

Nesta obra, Lóri é a personagem central, enquanto Ulisses ocupa um papel secundário, mero referencial para os pensamentos e atitudes de Lóri. O livro conta, acima de tudo, a viagem empreendida por Lóri em busca de si própria e do prazer sem culpa. Uma viagem na qual Ulisses funciona como um farol, indicando onde estão os perigos e o caminho correto para a aprendizagem do amor e da vida.

OPINIÃO

Ao iniciar o livro com uma vírgula “,estando tão ocupada, viera das compras…”, o leitor é colocado de imediato em alerta. Percebe-se que a utilização da pontuação, ao longo de toda a narrativa, é uma provocação em harmonia com o estado de espírito de Lóri, a personagem central feminina e ao terminar o texto com dois pontos “… eu penso o seguinte:” mantém em aberto essa mesma provocação. Se a escrita foge aos padrões estabelecidos também a vida desta personagem se encontra em fase de aprendizagem. Pode-se afirmar que a narrativa acompanha o processo de aprendizagem, lento, inseguro, superando barreiras internas e medos. 
É através de Ulisses, que funciona como âncora, como pólo orientador, que Lóri empreende a sua viagem interior em busca de si própria e do prazer sem culpa. Percurso difícil, já que Lóri se esconde atrás da dor e da solidão. Porém, graças à espera paciente de Ulisses e sobretudo à busca e à percepção do que acontece no seu íntimo, ela conseguirá entender a sua existência e valorizar a beleza da vida. Só então ela se sentirá “pronta” para amar sem culpa e sem medo. O final do livro, extremamente sensual, revela isso mesmo. É a entrega mútua sem receio e consciente do amor e da vida. 
Mais uma vez, Clarice Lispector não desilude o leitor. Gostei muito da maneira como ela nos faz reflectir sobre a vida. 

“De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário, E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário.” (p.97)




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