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17 fevereiro, 2024

𝑶 𝑨𝒏𝒊𝒃𝒂𝒍𝒆𝒊𝒕𝒐𝒓, de Rui Zink

 



Autor: Rui Zink
Título: O Anibaleitor
N.º de páginas:135
Editora: Teodolito
Edição: Outubro 2014
Classificação: Novela
N.º de Registo: (BE)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐

Que leitura agradável, divertida, plena de humor. Adorei conhecer o Anibaleitor, uma figura mítica, quiçá, o Adamastor dos Lusíadas ou o Mostrengo de A Mensagem, ou o King Kong, das telas de cinema, bem como adorei acompanhar as aventuras do jovem protagonista que não gosta nada de ler.

A forma como se conheceram não vou narrar, pois anularia o encanto desta narrativa. Contudo, no primeiro parágrafo, já deixei algumas pistas…

É na ilha, onde decorre uma parte da acção que estes dois improváveis comparsas se vão conhecer e tornar amigos. O jovem que, de início, teme ser devorado pelo monstro, e para fugir a tão ingrato destino aceita, à semelhança “de uma tal Xerazade” das Mil e uma noites, ler durante o dia os livros indicados pelo seu “descomunal interlocutor” para à tardinha tecerem juntos comentários sobre os livros lidos.
“Sabes, fiquei a tarde toda a magicar naquela dos livros de que não gosto. (…) O texto é um tecido e o tecido é um texto. O entrelaçar de fios diferentes – ritmo, sentido, letras – para fazer um tapete de palavras, um tapete com um desenho que pode ser mais ou menos laborioso, intrincado, estimulante, misterioso. Ou seja, uma coisa que se leia. Topas?” (pp. 89 -91)

A partir das leituras e das conversas surgem grandes reflexões sobre a importância da leitura, sobre a escolha de determinados livros, sobre a mensagem emanada dos mesmos.
A narrativa funciona como uma manta de retalhos (é o próprio autor que o refere) tal é a intertextualidade com poemas, autores, obras, imagens, personagens, letras de canções. Uns citados directamente, outros revelados nas entrelinhas e outros mais subtis que apelam, ou não, ao conhecimento, à memória do leitor. Não é importante para a compreensão da narrativa descobrir todas as referências literárias, culturais, mas torna-se um desafio.
Apesar de ser um livro de fácil leitura, a mensagem não é tão linear como aparenta. O próprio autor, no final, alerta para a possibilidade de este “texto poder esconder outro”. E eu concordo. Fiquei com a ideia de que nos quis narrar a sua própria caminhada na descoberta dos livros, da leitura, do prazer de ler e, mais tarde, do acto de escrever.

“Como castigo obrigaram-me a ser escritor, uma sina que não desejo nem ao meu maior inimigo. É pior que prisão perpétua! Passamos o dia sentados a uma mesa, frente ao papel em branco ou ao computador em cinzento; o rabo amolece de tanto estarmos sentados, e ficamos a escrevinhar, a escrevinhar, sujeitos a artroses, a escrevinhar, a escrevinhar – histórias que, ainda por cima, quase ninguém lê, a menos que sejam adaptadas para cinema ou televisão.” (p. 124)


O Anibaleitor é uma autêntica diversão que através de um humor inteligente e de uma escrita simples e sarcástica convida jovens e menos jovens a “devorar” livros e a descobrir a importância da leitura num mundo cada vez mais votado à tecnologia.

Convido-vos a participar neste banquete, a devorar livros, mas sobretudo a degustar as palavras servidas pelo autor.
O livro que li é da minha biblioteca escolar, mas vou comprar um só para mim, pois há muitas passagens que quero sublinhar, seguindo o conselho de Anibaleitor, e, também, porque considero que é um livro que deve permanecer na minha mesa-de-cabeceira para, de vez em quando, me alimentar os sonhos.

“Para o Anibaleitor, um livro era um encontro entre duas vozes: a nossa e a do livro. E sublinhar um livro, não tinha mal nenhum, era quase como que ler a dobrar; era sinal de que encontráramos uma passagem, uma frase, um parágrafo, que nos tocava no texto e isso, segundo ele, valia ouro. Era quase como ganhar, de borla, um segundo livro.” (p. 73)






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