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14 fevereiro, 2024

𝑶 𝑨𝒎𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒆 𝑳𝒂𝒅𝒚 𝑪𝒉𝒂𝒕𝒕𝒆𝒓𝒍𝒆𝒚, de D. H. Lawrence

 


Autor: D. H. Lawrence
Título: O Amante de Lady Chatterley
Tradutora: Maria Teresa Pinto Pereira
N.º de páginas:350
Editora: Colecção Mil Folhas
Edição: Dezembro 2002
Classificação: Romance (clássico)
N.º de Registo: (1418)



OPINIÃO ⭐⭐⭐⭐⭐



Escrito em 1928. É importante referir a data para melhor entendermos a polémica causada na época. Foi censurado e proibido de ser publicado durante anos por conter descrições de cenas explícitas de sexo, mas sobretudo porque se foca no adultério e no prazer feminino.
Considero que, para além do erotismo presente na narrativa que lhe confere uma força literária arrebatadora, a obra é extraordinariamente enriquecedora no que diz respeito à condição da mulher inserida na sociedade inglesa muito tradicional e conservadora.
Gosto sobremaneira da personagem feminina. Oriunda de uma família burguesa, educada pelo pai fora da convencionalidade da época, Constance (Lady Chatterley) culta e liberal vai evoluindo ao longo da narrativa. De esposa passiva e aquiescente, desempenhando um papel de cuidadora de Clifford, o marido que regressou mutilado da guerra, vai gradualmente libertar-se desta função ao conseguir que o marido contrate uma enfermeira e, assim, fugir da monotonia diária e caseira.
Sobra-lhe, então, tempo para passeios no bosque e contemplação da natureza.
É nesse encantamento que descobre Mellors, empregado do marido. A deferência, inicialmente imposta por Mellors, vai transformar-se num relacionamento amoroso que só é possível porque ambos obtêm uma plena satisfação sexual nos encontros que mantêm clandestinamente.
Cedo percebemos que a relação de duas pessoas de classes sociais diferentes vai levantar dúvidas entre elas, mas vai sobretudo romper com as convenções sociais e os preconceitos estabelecidos.
A narrativa flui ao ritmo da dependência cada vez maior de Clifford que com a sua inteligência e o seu poder económico vai-se impondo em Wragby, cidade mineira onde residem e nas suas relações da sociedade inglesa, em alternância com as descrições minuciosas dos encontros de Constance e Mellors.
O autor confere às duas personagens, o atributo de subverterem a submissão e a passividade femininas no acto sexual e coloca-as numa relação sincera, sem falsidade, já que ambos se desnudam e com ternura exploram mutuamente o corpo de cada um até ao prazer simultâneo.
Penso que sejam estas descrições que chocaram os puritanos de então. E será que hoje, ainda, chocam alguns?
Não vou revelar mais nada. Convido-vos à leitura. Mas posso concluir que o livro não se foca só em sexo. Aborda também, e muito bem, questões sobre a exploração do homem assalariado, o conservadorismo, o snobismo, o tédio nos divertimentos, os valores sociais e familiares de uma época pós-vitoriana (entre as duas guerras) e, por que não, a libertação feminina e o amor.







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