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13 maio, 2020

Na Patagónia, de Bruce Chatwin


OPINIÃO


Este relato de viagens de Bruce Chatwin surpreende pela positiva já que, para além de descrições maravilhosas dos lugares visitados, lega-nos uma colecção de histórias intrigantes dos habitantes da região. Durante os seis meses que Chatwin passou na Patagónia, a sua viagem incidiu na busca de pessoas e de lugares com história. A cada recomendação, ele avança e descobre e vive a Patagónia, e é esta, a sua Patagónia que tão bem nos descreve, mágica e intensa. 

“Anselmo a aconselhou-me a visitar o poeta, o Maestro, como lhe chamava. O poeta vivia sozinho numa cabana de duas divisões à beira-rio, num lugar isolado coberto de damasqueiros. (…) Os seus dedos apertaram-me o braço e fixou-me com um olhar intenso e luminoso. 
- Patagónia! – exclamou. – É uma amante possessiva. Enfeitiça. Uma autêntica sedutora. Envolve-nos nos seus braços e nunca mais nos deixa partir.
A chuva tamborilava no telhado de lata. Durante as duas horas que se seguiram, ele foi a minha Patagónia. “ (p. 63)

“Archie Tuffnell adorava a Patagónia e chamava-lhe «Velha Pat». Gostava da solidão, dos pássaros, do espaço e do saudável clima seco. Tinha administrado uma fazenda de criação de carneiros durante quarenta anos por conta de uma grande companhia inglesa. Quando chegou a altura da reforma, não pôde suportar a ideia de se encafuar na Inglaterra e tinha comprado a sua própria terra, trazendo com ele dois mil e quinhentos carneiros e «o meu homem Gómez» . Archie doara a casa à família Gómez e vivia sozinho numa casinha prefabricada. A sua organização doméstica era um tratado de ascetismo: um chuveiro, uma cama estreita, uma secretária e dois bancos, mas nenhuma cadeira. “ (p.184) 

De Norte a Sul, entre a costa e o interior, o autor vai deambulando em busca de personagens e de lugares marcantes (históricos, lendários, míticos) na construção da Patagónia. “ O estreito de Magalhães é mais um caso em que a natureza imitou a arte” (p.218). Ele cruza histórias de imigrantes, de índios, de colonizadores, de navegadores (Fernão de Magalhães) com os lugares que vai visitando. Assim, a sua narrativa é construída de histórias contadas pelas figuras invulgares que habitam a região: contadores de histórias, exilados, bandidos, fugitivos, marinheiros, donos de bares, criadores de gado, gaúchos, mineiros, camionistas (que lhe davam boleia), sindicalistas, entre muitas outras …  
Se a Patagónia já me fascinava (e nunca lá estive) então, agora, ainda mais!



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