27 março, 2020

A Saga de Selma Lagerlöf, de Cristina Carvalho


OPINIÃO



Este livro, de Cristina Carvalho, é uma verdadeira homenagem à escritora e à mulher Selma Lagerlöf. Através de uma escrita simples e emotiva, a autora dá-nos a conhecer esta mulher extraordinária. “Selma Lagerlöf foi sufragista, feminista e defensora intransigente dos direitos das mulheres” (p. 9), mas também professora, escritora e amante da Natureza. Foi ainda a primeira mulher a receber o Prémio Nobel da Literatura (1909) e “a primeira mulher a ocupar um lugar na Real Academia Sueca” (1914). 

É pois esta mulher que Cristina Carvalho nos apresenta neste livro. Uma mulher de forte personalidade, nem sempre aceite pelos seus pares que a acusavam de “escrever, bastante bem, umas historietas”. (p.145). Também na escrita ela foi inovadora, ela, “uma escritora provinciana”, escreveu sobre as suas raízes, as paisagens da sua terra com seus mistérios e personagens fantásticas… 
“ Na minha Literatura nunca aceitei, nem usei, nem compreendi o tal realismo e escrevi sempre o que imaginei com palavras fáceis e compreensíveis.” (p.145) 

É um livro mágico, repleto de emoções que deixa transparecer a paixão que a autora sentiu ao escrevê-lo e ao revisitar os lugares onde a biografada viveu. Este aspecto é ainda mais evidente na descrição pormenorizada da casa Mårbacka, a casa onde Selma Lagerlöf nasceu, cresceu, viveu (grande parte da sua vida) e morreu. A envolvência é tão forte que existe ao longo do texto um diálogo entre a escritora Cristina e a escritora Selma. “ Continua, então a descrever agora o interior da minha casa do modo mais terno e amável que conseguires. Imagina-me! Solta-me! Prende-me!” 

Recomendo muito a leitura! Para além de nos dar a conhecer a escritora sueca, este livro também é elucidativo quanto à escrita e à personalidade da escritora, Cristina Carvalho.


20 março, 2020

Quando vier a Primavera, de Alberto Caeiro



Quando vier a Primavera,

Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.


Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

Terra Sombria – A Mediadora, de Meg Cabot


OPINIÃO

Trata-se de uma história engraçada e deliciosa. A jovem Susannah, Suze como gosta de ser tratada, é uma jovem nova-iorquina de 16 anos que se muda para a Califórnia. Aparentemente é uma adolescente normal que frequenta a escola, tem amigos, e veste blusão de cabedal preto… 
Mas Suze tem uma característica particular que lhe tem causado alguns dissabores e muitas aventuras.
Recomendo a quem gosta de livros de fantasia, sobretudo aos jovens, e por que não aos menos jovens. Nesta época em que vivemos, eu que nem aprecio este género de leitura, acabou por me distrair e divertir um pouco. Algumas conversas dos jovens fizeram-me revisitar a minha adolescência. Relembrei algumas diabruras… 
Leiam! Divirtam-se!



19 março, 2020

Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, de Olga Tokarczuk




OPINIÃO:

Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos é um romance desconcertante, é uma mescla de géneros e de assuntos já que aborda crimes, política, intervenção ambiental, astrologia, e também literatura. 
Numa povoação rural na Polónia junto à fronteira checa, onde o inverno é longo e bastante rigoroso, a professora reformada, Janina Duszejko, vai narrando as suas actividades do dia-a-dia, os seus passeios pela floresta, as suas maleitas e a sua teoria sobre as mortes que vão ocorrendo. Na sua opinião, são os animais e a natureza que se vingam do comportamento humano. 
O enredo vai-se desenvolvendo e o leitor vai ficando cada vez mais preso a esta narrativa e à personagem que tem tanto de lúcida como de louca. Gosto sobretudo da sua loucura. 

“Não contes essa tua teoria a ninguém. É muito improvável e pode prejudicar-te. (…)
Fiquei a pensar que também ele me tomava por louca, como toda a gente, e isso magoou-me.”

A autora recorre à ironia para criticar alguns comportamentos, põe em causa a actuação do homem perante a natureza e os direitos dos animais. 
É uma abordagem diferente, interessante que nos faz reflectir.



09 março, 2020

Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa, de Judith Kerr



OPINIÃO

Este clássico da literatura juvenil é inspirado na vida da própria autora e narra a história de uma menina judia de nove anos, durante a Segunda Guerra Mundial, numa perspectiva diferente, mais leve e com algum humor.

A família de Anna decide abandonar a Alemanha quando Hitler ascende ao poder. A história centra-se sobretudo na problemática da vida de uma família de refugiados que vai de país em país (Suíça, França, Inglaterra) à procura de estabilidade e de melhores condições. Situação, infelizmente, também hoje muito atual. 
É pela visão inocente de Anna que vamos conhecendo o dia-a-dia da família e que dificilmente aceita que o pai, um famoso escritor, os force a sair do país, a abandonar o conforto do lar, os amigos, os brinquedos para irem viver com dificuldades económicas, num outro país de cultura e língua diferentes. 
A pouco e pouco, Anna vai-se adaptando à sua nova situação e compreende que o importante mesmo é ficarem juntos. 

“Eu só acho que deveríamos ficar juntos – disse ela. Onde ou como não me importa. Não me importa que as coisas sejam difíceis, que não haja dinheiro, … Desde que estejamos juntos.”

História comovente onde os afectos e a união familiar são os alicerces principais para vencer os obstáculos que surgem ao longo da vida. 



06 março, 2020

Xerazade – A Última Noite, de Manuela Gonzaga


OPINIÃO

De início, não é uma leitura fácil e requer muita atenção, mas à medida que se vai avançando, vamos entrando na pele da personagem e vamos acompanhando as histórias mágicas narradas pela personagem, Xerazade, ao seu “amor”. A autora recupera assim a história das Mil e Uma Noites, obra fabulosa de tradição oral.
“Agora, deixa-me contar-te uma história. Mais uma.” (p. 67)

Muitas das histórias narradas fazem parte do nosso imaginário na medida em que há inúmeras referências a mitos, a heróis clássicos, a deuses, a lendas, a contos de encantar. São contos maravilhosos, escritos numa prosa poética que nos cativam e nos surpreendem porque renovados de forma brilhante. A beleza das histórias narradas por Xerazade está precisamente na interligação das histórias do passado com a sua própria vida. Confesso que por vezes é difícil destrinçar esses dois tempos, mas é isso que torna este livro surpreendente e cativante.
“Voei, sim. Sem ti. E ainda tanto para contar. Ou será esta uma desculpa para não me ir embora? É estranho. Neste cruzar de histórias, acabei por recuar tempo de mais, amor.” (p.155)



05 março, 2020

André e a Esfera Mágica, de Manuela Gonzaga


OPINIÃO

Sonhar é maravilhoso! As aventuras de André são fantásticas!
Por motivos profissionais tive de ler este livro. Já li outros livros da autora, mas desconhecia a sua literatura juvenil. Adorei. Como é bom relembrar e reviver a minha infância através da sua escrita. Identifico-me com tantas peripécias, angústias e sonhos vividos pelo André e seus amigos. História encantadora que recomendo a todos os jovens.