08 fevereiro, 2020

Doida Não e Não! de Manuela Gonzaga


OPINIÃO

Em Doida Não e Não! Manuela Gonzaga apresenta a biografia de Maria Adelaide Coelho da Cunha internada como louca num manicómio no Porto. Personagem da alta sociedade lisboeta, herdeira do fundador do Diário de Notícias, casada com um homem de letras, Alfredo da Cunha, Maria Adelaide decide aos 48 anos abandonar tudo (casa, fortuna e conforto) e todos (marido, filho, amigos, …) para fugir com o “chauffeur” da casa, um jovem de 26 anos.
Esta história verídica, que ocorreu em 1918, destaca a inteligência e a luta feroz que esta mulher manteve contra a sua família e a sociedade conservadora e corrupta da época. Maria Adelaide numa luta desigual bateu-se por amor, pela liberdade e pela verdade, revelando uma forte lucidez.
“ (…) afirmo-o convicta porque sendo certo que não estou, nem nunca estive doida, há-de provar-se. Leva cinco, dez, quinze anos? Leva-me o resto da vida? Leve o tempo que levar; há-de provar-se.”

Mesmo nos momentos de grande sofrimento, conseguiu manter vivo o seu espírito que lhe permitiu registar tudo a que foi sujeita durante o internamento e, mais tarde, travar por escrito, nos jornais, uma batalha violentíssima contra o seu “marido ferido violentamente nos sentimentos época e no orgulho, que congemina vingança (…) a comprar testemunhos e a pagar opiniões falsas e requintadamente más, a médicos que lhas facultam a troco de uns contos de réis”.

Recomendo vivamente a leitura desta biografia, autêntica história de amor que marcou a época e que fez correr muita tinta na imprensa, em livros publicados e até na realização de um filme (Solo de Violino, de Monique Rutler, 1992). Manuela Gonzaga desenvolveu um trabalho meticuloso e rigoroso, mantendo nas citações a escrita da época e fornecendo inúmeras fontes, prova de uma intensa pesquisa em documentos vários, cartas e testemunhos.


2 comentários:

  1. Boa tarde,
    Li este livro por mero acaso e foi tão bom.
    Adorei a escrita, foi sem duvida uma agradável surpresa.

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    1. Por vezes acontecem surpresas agradáveis. É tão bom!

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