29 dezembro, 2019

Pode um corpo morto, de Andreia Azevedo Moreira


OPINIÃO



Este pequeno livro integra a colecção Crateras Ficção, projecto que visa a publicação de textos inéditos de autores directamente ligados à EC.ON. 

Foi uma boa surpresa a leitura deste livro que contém quatro textos em prosa. A autora revela uma escrita madura, por vezes dura na medida em que foca o assunto com palavras cruas e directas. Não há rodeios, mas há sentimento e intensidade, há coragem em abordar temas como a prostituição “Por que será menos digno ganhar dinheiro a fazer algo de que se goste do que acabar-se com o lombo a limpar escadas, “; o envelhecimento “ Considerei pertencer a uma estirpe incorruptível pela idade.”; o prazer sexual “Terei alguma vez sentido orgasmo ou alegria (…) Cinquenta anos. Mudanças não houve.” ; a beleza ou a falta dela “Reparei nas feições desagradáveis. Na vez da repulsa, ternura e preconceito.”. 

Colocando a mulher no centro da sua escrita, a autora crítica uma sociedade ainda demasiado machista e preconceituosa. 

Vejam como é belo este excerto retirado do segundo texto:
“Danço louca e despudorada. Inteira. Pela primeira vez, não represento. Sou. Uma mulher a dançar uma canção de desamor. Rodopio no meio de cadeiras brancas recostadas que estranham a desenvoltura, a ausência do medo e de expectativas.”


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