08 dezembro, 2019

As crianças Invisíveis, de Patrícia Reis




SINOPSE

M. é uma criança habituada a ser usada e devolvida por famílias sucessivas como um produto que não satisfaz o cliente. Cresce numa instituição de acolhimento, onde vai descobrindo o poder da amizade e as armadilhas do desejo e da paixão. Esta é a sua história até chegar à idade adulta, atravessando um processo de invisibilidade, no qual a dor se confunde com a esperança de encontrar uma vida a que possa chamar sua. Ao seu lado existem outras crianças e ainda Conceição, a assistente social que escolhe amar M. incondicionalmente.

As Crianças Invisíveis é um romance que alia um exercício literário ímpar com um profundo trabalho de investigação sobre abandono, maus-tratos e adopção. Construindo toda a narrativa de uma maneira muito original, sem identificar o sexo das crianças, e a partir do olhar delas, a escrita límpida, poderosa e cirúrgica de Patrícia Reis conduz-nos, neste romance avassalador, através dos sonhos, do medo e da intimidade de um conjunto de personagens que percorrem a infância e a adolescência sem pai, nem mãe, nem identidade.


OPINIÃO


Belíssimo livro. Capa e separadores de capítulos apelativos. Estrutura cuidada e original e, sobretudo, uma escrita inteligente e concisa que nos permite mergulhar de forma avassaladora, sentida e emocionada na história de M., criança institucionalizada na “Casa”. 
Esta criança invisível foi adoptada por famílias sucessivas que a devolveram como se de uma mercadoria se tratasse. “Uma família leva uma criança para casa e faz um teste e, depois, pode dizer que se enganou, o amor não cresceu de repente, esplendoroso e gigante, capaz de ultrapassar todos os dissabores por ser amor, logo incondicional. M. sabia de tudo isto.” (p. 45)
“M. conhece muitas crianças devolvidas no período de pré-adopção, os tais seis meses”· (p. 45)

Sabendo que se trata de um romance ficcional que aborda a problemática da adopção, do abandono e maus-tratos, não consigo deixar de pensar que tudo o que foi narrado pode de facto acontecer e que, infelizmente, personifica histórias de muitas crianças. 

“ M. imagina que a Casa está cheia de potenciais construtores de ficção. Há um certo conforto nessa unidade., crianças prontas para imaginar realidades alternativas. M. não considera, nas suas efabulações, a possibilidade de uma mãe. Nem o seu cheiro, nem toque. Já passou essa fase.” (p..150) 

“uma vez criança invisível… Não se é igual às outras, é-se obrigatoriamente incomum, em desavença com a ordem do mundo.” (p.158)


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