31 dezembro, 2019

O Terrorista Elegante, de Mia Couto e José Eduardo Agualusa



OPINIÃO

Um livro maravilhoso, bem-disposto e que me fez rir. Não esperava outra coisa. Assim que soube que Mia Couto e José Eduardo Agualusa tinham escrito este livro juntos, pensei "vai ser genial" e não me enganei. Não podia escolher um melhor livro para terminar o ano.
Recomendo vivamente!

29 dezembro, 2019

Pode um corpo morto, de Andreia Azevedo Moreira


OPINIÃO



Este pequeno livro integra a colecção Crateras Ficção, projecto que visa a publicação de textos inéditos de autores directamente ligados à EC.ON. 

Foi uma boa surpresa a leitura deste livro que contém quatro textos em prosa. A autora revela uma escrita madura, por vezes dura na medida em que foca o assunto com palavras cruas e directas. Não há rodeios, mas há sentimento e intensidade, há coragem em abordar temas como a prostituição “Por que será menos digno ganhar dinheiro a fazer algo de que se goste do que acabar-se com o lombo a limpar escadas, “; o envelhecimento “ Considerei pertencer a uma estirpe incorruptível pela idade.”; o prazer sexual “Terei alguma vez sentido orgasmo ou alegria (…) Cinquenta anos. Mudanças não houve.” ; a beleza ou a falta dela “Reparei nas feições desagradáveis. Na vez da repulsa, ternura e preconceito.”. 

Colocando a mulher no centro da sua escrita, a autora crítica uma sociedade ainda demasiado machista e preconceituosa. 

Vejam como é belo este excerto retirado do segundo texto:
“Danço louca e despudorada. Inteira. Pela primeira vez, não represento. Sou. Uma mulher a dançar uma canção de desamor. Rodopio no meio de cadeiras brancas recostadas que estranham a desenvoltura, a ausência do medo e de expectativas.”


Zeca Afonso – o andarilho da voz de ouro, de José Jorge Letria




OPINIÃO

Livro infantil com uma escrita muito poética e com ilustrações maravilhosas que explica muito bem quem foi Zeca Afonso, o seu papel como poeta e cantor de intervenção, grande defensor da Liberdade.

A Passagem, de Horácio Medina


SINOPSE


A vida é de quem vive do que arde cá dentro.
Assim começa a passagem de Horácio Medina. Pela (re)visita aos campos da juventude e às passadas pela corrente forte e contínua que o persegue, este procura a resposta à pergunta existencial que Horácio Medina tanto se questiona e lhe intriga:
Quem sabe viver?


OPINIÃO

Horácio Medina tinha 23 anos quando publicou este livro de poesia, pelo que a sua escrita revela já alguma maturidade. O livro está dividido em três partes: Os Campos (20 poemas), A Corrente (12 poemas) e A Passagem (32 poemas). Temos o tema do tempo, a inevitabilidade da passagem do tempo e a busca incessante do “Eu”. Esta busca reflecte-se na urgência de viver. Há um crescendo desta ideia ao longo do livro. 
Na primeira parte, a passagem do tempo é vivida de forma serena:
“ Durmo como as crianças, que ao leve som ignoto/Levantam-se como quem lhes dá tudo.” ( II);
“Sentir o sentido de todas as ínfimas coisas, / Dos campos que são verdes e belos, / Que são meus, porque os vejo como são.” (VI)
“ Procuro o sol como quem procura o dia, /Esperando, assim, como qualquer ser, /Que amanheça o dia de todos os dias.” (XVII)

Na segunda parte, a mesma passagem do tempo já é mais tumultuosa, mais sofrida de acordo com a “corrente” das águas, ora do mar “com as ondas a rebentarem nos meus alicerces” (I), ora do rio “O rio corre e vai ter ao mesmo sítio de todo o sempre” (II);
“Afinal não há vida para além desta./ Afinal esta nunca existiu, / (…) As lágrimas são apenas o ato de ver mais que o visível/ E escorrem pela face, como um rio pela encosta abaixo.” (IV);
A vida é como o correr do rio. / Vê o dia e a noite e a paisagem enquanto passa. / Nasce, corre e leva sempre aos mesmos lugares. / E quem o vê correr não se vê correr.” (X) 

Finalmente, na terceira parte, a minha preferida, onde a passagem do tempo, da vida é a procura incessante do “Eu” “Assim me conheça” (XXII). Esta procura manifesta-se em desassossego, em questionamento e em cansaço “Sou o longe de mim e a proximidade que fora. / E agora, o que vem?” (VI)
“ Não creio em ilusões. Iludo-me. / Desassossego-me sossegado continuamente, “ (XIV); 
“ Oh, o que eu daria para não passar de hoje…” (XVI) 

Esta urgência de viver, como referi acima, deve-se ao facto de o autor ter uma missão a cumprir que é a de escrever (XV):
“(…) 
Escrevo como um danado e como se não houvesse amanhã; 
E o futuro fosse tão distante da minha alma de papel.
Porque escrevo não sei. 
Que deverei saber eu da minha literatura?
E os que lêem, que deverão saber eles de mim?
Ler é encher a alma. 
Escrever é libertação” 

Concordo plenamente com estes dois últimos versos. Medina cumpriu bem, na minha opinião, a sua missão. Resta-nos a nós leitores “encher a alma”. 




28 dezembro, 2019

Cartas Portuguesas, de Soror Mariana Alcoforado



OPINIÃO

Hoje, em que basicamente já não se escrevem cartas, muito menos de amor, considero que todos os amantes de livros e de literatura deveriam ler este pequeno livro maravilhoso. E esta edição de 2011 (Cocas Produções) é belíssima com ilustrações fabulosas de Susa Monteiro. 

Estas cartas atribuídas a Mariana Alcoforado são datadas de Janeiro de 1669. São cinco cartas de amor enviadas por Mariana, jovem freira que vivia num convento em Beja, a um oficial francês.·
Estas cinco cartas revelam uma paixão avassaladora, uma entrega total ao homem que a seduziu e que a abandonou sem qualquer explicação. Estamos perante um amor exacerbado, sofrido, sem retorno. 

“Mas pareceras-me digno do meu amor, antes que me houvesses dito que me amavas, mostraste-me uma grande paixão, senti-me deslumbrada, e abandonei-me a amar-te perdidamente.” 

“Sei bem que te amo como uma doida.
Não me queixo contudo de esta fúria insana no meu coração.” 

“Daqui a poucos dias vai fazer um ano que toda me entreguei a ti, sem recato”.

Magnífico! Arrebatador!


27 dezembro, 2019

É Março e É Natal em Ouagadougou, de António Pinto Ribeiro


OPINIÃO




Este livro, classificado como “livro de viagens” pouco ou nada descreve dos países visitados na entre 2004 e 2010. Trata-se sobretudo de pequenas notas de viagens efectuadas pelo autor em trabalho como professor ou como programador. 

O que gostei efectivamente de ler no livro são as muitas referências culturais apresentadas (cinema, músicas, escritores, museus …), sobretudo as literárias, pois o autor cita livros que devem ser lidos antes de se visitar determinado país ou determinada cidade. Por exemplo:
a) capítulo “Veneza” - “ Veneza, de Jan Morris, é o livro ideal para esta viagem; “
b) capítulo “Três dias em Paris” – “… é que nesta cidade apetece viver à volta de livros, da leitura de livros, da visita às livrarias, da compra ou troca de livros, da consulta às bibliotecas, (…) e ler, principalmente. “ 
c) capítulo “Cuba” – “Numa viagem a Cuba devemos entre outros livros possíveis, levar connosco A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera.” 

E por aí adiante … 
É um livro diferente e interessante.



26 dezembro, 2019

Um Cântico de Natal, de Charles Dickens



SINOPSE

Um daqueles raros livros que deu expressão a algo enorme. Acredito que a própria vivência do Natal foi tocada por estas páginas.(…) Uma obra que nos faz pensar e que nos faz sentir. É por isso que continuará a ser lida.

OPINIÃO

Belíssimo conto que enaltece o verdadeiro espírito do Natal, despertando valores como “a caridade, a misericórdia, a tolerância e a benevolência”(p. 43). Nesta obra intemporal, muito bem escrita, o autor como em quase todos os seus livros, critica a sociedade e dá destaque aos que vivem com mais dificuldades. Charles Dickens, através das suas descrições tão realistas, consegue transportar o leitor para o âmago da acção e vivê-la intensamente como se fosse uma personagem. 
É um conto que nos faz reflectir sobre a vida, sobre as relações humanas, a solidariedade, a generosidade, … 
O ideal seria mesmo que o Natal fosse celebrado todos os dias, tal como Scrooge, angustiado pelas imagens que viu, referiu “ – Honrarei o Natal do fundo do coração e celebrá-lo-ei todo o ano” (p.142)



25 dezembro, 2019

Chuva sobre o Rosto, de Eugénio de Andrade




OPINIÃO

E como hoje, dia de Natal, há lugares vazios à mesa, nada melhor do que (re)ler estes 21 poemas de Eugénio de Andrade. O livro inicia com um retrato da sua mãe, por José Rodrigues. Todos os poemas são dedicados à mãe. Como referi numa leitura anterior, estamos perante um discurso cristalino, conciso, sentido e verdadeiro. Não há muito a dizer. A sua escrita diz tudo. A melhor homenagem é lê-lo. Transcrevo dois poemas… em memória da mulher que é/ foi a sua mãe. Pela saudade que tenho da minha. 

Essa mulher… 

Essa mulher, a doce melancolia
dos seus ombros, canta.
O rumor
da sua voz entra-me pelo sono,
é muito antigo.
Traz o cheiro acidulado
da minha infância chapinhada ao sol.
O corpo leve quase de vidro.

Casa na chuva 

A chuva, outra vez a chuva sobre as oliveiras.
Não sei por que voltou esta tarde
se a minha mãe já se foi embora,
já não vem à varanda para a ver cair,
já não levanta os olhos da costura
para perguntar: Ouves?
Ouço, mãe, é outra vez a chuva,
a chuva sobre o teu rosto.


24 dezembro, 2019

À Sombra da Memória, de Eugénio de Andrade

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SINOPSE

"Sou um homem com vocação para escutar. Vocação e paciência: fixa, imóvel, atenta ao rumor da luz, do coração batendo, ou simplesmente das palavras, quando se juntam para acasalar. Rumores que atravessam a nossa vida, se perdem na memória, regressam com as cabras, o focinho húmido dos primeiros orvalhos. Alguns desses rumores andam connosco desde menino, acabam perdidos num olhar, morrem à míngua de música. Rumores do azul fremente da sombra, dos cães ladrando no adro; rumor da chuva, os pingos grossos pressentindo a agonia das cigarras e do verão sobre as oliveiras; rumor do sol entrando pelo quarto, gatinhando até à cama."


OPINIÃO

Eugénio de Andrade é um dos meus poetas portugueses preferidos por duas razões específicas: a primeira, como não podia deixar de ser, a sua poesia; a segunda, porque é meu conterrâneo (nasceu na Póvoa da Atalaia, concelho do Fundão. Eu nasci no Tortosendo, concelho da Covilhã, mas vivi no Fundão). Por tudo isto, não compreendo como pude deixar este livro guardado na estante durante dez anos sem o ler. Incompreensível! Porém, releio amiúde a sua poesia. 
Este pequeno livro, em prosa, revela a sua sensibilidade perante a natureza, perante a amizade verdadeira, perante a arte. O autor “à sombra da memória”, fala-nos da sua infância, da sua mãe, dos amigos, dos lugares onde viveu e de algumas viagens. Tanto num tão pequeno livro, poder-se-ia afirmar. Sim, uma das principais características do autor é o uso apropriado da palavra. Nada está a mais, nada está a menos. Se assim é, na poesia o mesmo se verifica na prosa. Pelo que poderei afirmar que se trata de prosa poética. E citando o autor num dos seus poemas mais conhecidos: 

“São como um cristal, 
as palavras.” 

Estamos perante um discurso cristalino e conciso que conduz o leitor através das recordações, através dos sentidos num propósito de nos falar de si, da sua escrita, do seu mundo.

“O poeta é um homem de bruscas iluminações, não tem fórmulas para chegar à poesia; ninguém lhe pode apontar caminhos; chega-se lá como os cegos, tacteando;” (pp. 32 e 33)

“Andei por lá, nestes primeiros dias de Julho, à procura do rasto dos passos miúdos do garoto que por ali cresceu com os juncos da ribeira, e abriu, o coração à música do mundo:” (p. 99) 

“É assim, às vezes, a graça da poesia visita-nos: a mim, a vocês e temos que ficar-lhe gratos. Eu, por ter escrito o poema; vocês, por o terem recriado quando o lêem.” (p 111)

23 dezembro, 2019

Feliz Natal




Natal, e não Dezembro


Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, in 'Cancioneiro de Natal'




21 dezembro, 2019

A Porta, de Magda Szabó



SINOPSE
Romance escrito em tom confessional e vagamente autobiográfico, A Porta narra a estreita relação que se estabelece entre duas mulheres na Hungria dos anos do pós-guerra: Magda, uma jovem escritora, e a sua empregada, Emerence, uma camponesa analfabeta.
Magda, até então impedida de publicar, é politicamente reabilitada pelo regime, e torna-se escritora a tempo inteiro, alcançando, aos poucos, o merecido sucesso e reconhecimento social.
Ao mudar-se para um apartamento maior, emprega Emerence para a ajudar com as lides domésticas. Esta é uma figura enigmática, respeitada e quase temida pela vizinhança, sobre a qual exerce uma autoridade natural, embora ninguém conheça verdadeiramente o seu passado ou vida privada. A porta de sua casa está sempre fechada.
A inesperada e dramática doença do marido de Magda reforçará a ligação e intimidade entre as duas mulheres, as quais, não obstante as enormes diferenças que as separam, estabelecem uma insólita relação de dependência e confiança mútua, que fará Emerence abrir a porta de sua casa a Magda, revelando-lhe os segredos de um passado traumático, ao mesmo tempo que precipita um final trágico na sua relação.

Nova tradução, feita directamente do húngaro pelo reconhecido escritor e ensaísta Ernesto Rodrigues.

OPINIÃO

Livro fabuloso que ainda estou a digerir. É este tipo de livros que me dá prazer ler, em que a história remói e remói a minha mente, não consigo pensar noutra coisa a não ser nas personagens. 
A narradora que é escritora (autobiográfico?) e a sua empregada e porteira do prédio, Emerence, vivem durante mais de vinte anos uma relação ambígua, desconcertante e bastante tumultuosa ancorada em momentos de amizade, de ódio, de amor. 
As duas personagens dotadas de uma personalidade forte que vai oscilando entre o entendimento e a desconfiança, provocam no leitor sentimentos contraditórios e intensos. 
É pelas palavras de Magda, a narradora, que vamos conhecendo a vida das personagens, os erros cometidos, o remorso e a culpa que carrega, o segredo de Emerence que está por detrás da porta e que pouquíssimas pessoas conhecem, mas também um pouco da História da Hungria. 
Gostei muito do livro, da história que questiona as relações humanas, da escrita e sobretudo de Emerence, personagem com um carácter incrível.


11 dezembro, 2019

Contos do Natal, de Domingos Monteiro




SINOPSE

Nestes «Contos do Natal», dispersos por livros, jornais e revistas, e aqui reunidos ,”irmanam-se pela sua beleza, poder evocativo e profunda humanidade”, os imensos recursos do Homem e do Prosador.


OPINIÃO

Não conhecia Domingos Monteiro e fiquei seduzida pela sua escrita. Na minha opinião, estamos na presença de um excelente narrador de histórias. Este pequeno livro de sete contos concilia o real e a ficção. O autor atribui aos seus títulos características não observáveis e todas relacionadas com o Natal, diria até que recorre ao transcendente para destacar traços psicológicos das suas personagens bem como a miséria social em que se inserem. Estes aspetos são sobretudo visíveis nos contos “O Milagre”, “ Um Recado para o Céu” e “Ressurreição”.



08 dezembro, 2019

As crianças Invisíveis, de Patrícia Reis




SINOPSE

M. é uma criança habituada a ser usada e devolvida por famílias sucessivas como um produto que não satisfaz o cliente. Cresce numa instituição de acolhimento, onde vai descobrindo o poder da amizade e as armadilhas do desejo e da paixão. Esta é a sua história até chegar à idade adulta, atravessando um processo de invisibilidade, no qual a dor se confunde com a esperança de encontrar uma vida a que possa chamar sua. Ao seu lado existem outras crianças e ainda Conceição, a assistente social que escolhe amar M. incondicionalmente.

As Crianças Invisíveis é um romance que alia um exercício literário ímpar com um profundo trabalho de investigação sobre abandono, maus-tratos e adopção. Construindo toda a narrativa de uma maneira muito original, sem identificar o sexo das crianças, e a partir do olhar delas, a escrita límpida, poderosa e cirúrgica de Patrícia Reis conduz-nos, neste romance avassalador, através dos sonhos, do medo e da intimidade de um conjunto de personagens que percorrem a infância e a adolescência sem pai, nem mãe, nem identidade.


OPINIÃO


Belíssimo livro. Capa e separadores de capítulos apelativos. Estrutura cuidada e original e, sobretudo, uma escrita inteligente e concisa que nos permite mergulhar de forma avassaladora, sentida e emocionada na história de M., criança institucionalizada na “Casa”. 
Esta criança invisível foi adoptada por famílias sucessivas que a devolveram como se de uma mercadoria se tratasse. “Uma família leva uma criança para casa e faz um teste e, depois, pode dizer que se enganou, o amor não cresceu de repente, esplendoroso e gigante, capaz de ultrapassar todos os dissabores por ser amor, logo incondicional. M. sabia de tudo isto.” (p. 45)
“M. conhece muitas crianças devolvidas no período de pré-adopção, os tais seis meses”· (p. 45)

Sabendo que se trata de um romance ficcional que aborda a problemática da adopção, do abandono e maus-tratos, não consigo deixar de pensar que tudo o que foi narrado pode de facto acontecer e que, infelizmente, personifica histórias de muitas crianças. 

“ M. imagina que a Casa está cheia de potenciais construtores de ficção. Há um certo conforto nessa unidade., crianças prontas para imaginar realidades alternativas. M. não considera, nas suas efabulações, a possibilidade de uma mãe. Nem o seu cheiro, nem toque. Já passou essa fase.” (p..150) 

“uma vez criança invisível… Não se é igual às outras, é-se obrigatoriamente incomum, em desavença com a ordem do mundo.” (p.158)


02 dezembro, 2019

A história do senhor Sommer, de Patrick Süskind



SINOPSE

Plano Nacional de Leitura
Leitura recomendada no 7.º ano de escolaridade.

A história do senhor Sommer
No tempo em que eu ainda trepava às árvores, vivia na nossa aldeia, a uns dois quilómetros da nossa casa, um homem a quem chamavam senhor Sommer. Ninguém sabia qual era o seu nome de batismo e também ninguém sabia se ele tinha ou não uma profissão.
Mas embora pouco se soubesse sobre o senhor Sommer, toda a gente o conhecia, pois andava permanentemente de um lado para o outro. Podia nevar ou cair granizo, podia estar um temporal ou chover a cântaros, podia o sol queimar ou aproximar-se um furacão, sempre o senhor Sommer peregrinava como uma alma penada, atravessando a paisagem e os sonhos do narrador…


OPINIÃO

Trata-se de um pequeno livro encantador que cruza as histórias do narrador quando muito jovem “ no tempo em que eu ainda trepava às árvores – há muitos, muitos anos, há dezenas de anos atrás” e do senhor Sommer, um homem que se instalou na aldeia com a sua mulher “Ninguém sabia de onde tinham vindo os Sommer. Chegaram simplesmente um dia qualquer – ela de autocarro, ele a pé”. 
O autor transporta-nos, através da sua memória, para os tempos da sua infância. Descreve momentos enternecedores, narra situações caricatas, transmite conhecimentos, de vária ordem, no âmbito da matemática, da física, da língua, …
Quanto ao senhor Sommer e apesar do título, o leitor pouco conhece desta personagem invulgar e caricata, a não ser que passa todos os dias do ano, quer faça sol quer chova torrencialmente, a caminhar apoiado no seu cajado. “ O senhor Sommer andava em peregrinação ” porque “sofre de claustrofobia”.

O livro integra as sugestões do PNL para os jovens de 11 a 13 anos, mas, na minha opinião, pode perfeitamente ser lido pelos menos jovens. E tem ilustrações belíssimas de Sempé.