20 janeiro, 2019

A Trégua de Primo Levi


SINOPSE

Primo Levi inscreveu o seu nome entre os maiores escritores do século XX, a partir da experiência de prisioneiro e sobrevivente do campo de extermínio de Auschwitz. A sua prosa literária tem a força expressiva das narrativas em que a voz da testemunha se alia ao trabalho da memória e da recriação da vida nos limites máximos da dor e da destruição.

A Trégua, continuação de Se Isto é um Homem, é considerado por muitos críticos a sua obra-prima: diário da viagem rumo à liberdade, depois de dois anos de internamento no lager nazi, este livro, mais do que uma simples evocação biográfica, é um extraordinário romance picaresco.

A aventura movimentada e pungente por entre as ruínas da Europa libertada - desde Auschwitz, através da Rússia, da Roménia, da Hungria e da Áustria, até Turim -, desenrola-se ao longo de um itinerário tortuoso, pontilhado de encontros com pessoas pertencentes a civilizações desconhecidas e vítimas da mesma guerra: desde Cesare amigo de toda a gente, charlatão, trapaceiro, temerário e inocente, até aos bíblicos comboios do Exército Vermelho desarmado. 

A epopeia de uma humanidade reencontrada, que procura uma nova vontade de viver depois de ter atingido o limite extremo do horror e da miséria.



OPINIÃO

Neste segundo livro da trilogia de Auschwitz, Primo Levi narra o que ele e muitas outras pessoas viveram durante dez longos meses: de 27 de Janeiro de 1945 (libertação do campo pelos russos) até 19 de Outubro (chegada a casa em Turim). Foram meses de alegria (num primeiro momento), dor, sofrimento, fome, angústia e ansiedade. Num relato duro e cru e descritivo da realidade ficamos surpreendidos, ou não, pelo caos e pela miséria existentes nos países que os ex-prisioneiros atravessaram ao longo da viagem (Rússia, Eslováquia, Roménia, Hungria, Áustria, Alemanha e Itália). É incompreensível que numa Europa semi-destruída ainda prevalecesse o absurdo das formalidades e o fechar de olhos à situação destes “passageiros” que tão urgentemente necessitavam de regressar a casa, a uma vida normal. 
Se bem que de forma diferente em relação ao primeiro livro, Se Isto É Um Homem, porque nada iguala o sofrimento vivido num campo de concentração, o autor, neste livro, continua a testemunhar magistralmente o horror da guerra e o desrespeito da dignidade humana. 

“ Após o ano de Lager, de sofrimento e de paciência; após o gelo e a fome e o desprezo e a arrogante companhia do grego; após as doenças e a miséria de Katowice; após as transferências insensatas, por que nos sentíamos condenados a errar eternamente através dos espaços russos, como inúteis astros apagados; após o ócio e a nostalgia acerba de Stárie Dorogui, estávamos de novo em subida, portanto, em viagem para cima, a caminho de casa. “ (pág. 248) 

“Cheguei a Turim a 19 de Outubro… Reencontrei uma cama larga e limpa, que à noite (instante de terror) cedeu macia debaixo do meu peso. Mas só ao cabo de muitos meses se desvaneceu em mim o hábito de caminhar com o olhar fixo no chão, como que à procura de alguma coisa para comer ou para embolsar rapidamente e vender por pão; e não cessou de me visitar, a intervalos ora curtos ora espaçados, um sonho pleno de terror.” (pág. 285)


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