24 agosto, 2018

O Ministério da Felicidade Suprema de Arundhati Roy


Este segundo romance de Arundhati Roy, escrito 20 anos depois de O Deus das Pequenas Coisas é um livro político que narra o conflito existente entre a Índia e o Paquistão em relação a Caxemira e a repressão exercida pelo governo indiano sobre a população muçulmana. Trata-se por isso de um livro intenso e duro. Temos personagens fortíssimas que nos revelam as suas histórias, os seus sonhos, as alegrias, o sofrimento e sobretudo a perda quer de bens materiais quer de entes queridos ou próximos. É no meio de uma crueldade banalizada e de uma morte quase certa que estas personagens moldam as suas vidas.




09 agosto, 2018

O Olhar e a Alma - Romance de Modigliani de Cristina Carvalho




Breve biografia de uma vida também curta. Primeiro em Itália, depois em Paris. 35 anos de genialidade, talento, criatividade, originalidade e paixão pelas mulheres, suas musas, e pela arte (pintura e escultura), mas também de doenças, miséria, fome, álcool e drogas; de dependência da família (sobretudo da mãe), de amigos e de algumas mulheres; da falta de aceitação dos seus pares (artistas de vária ordem) com quem conviveu, mas nunca imitou ou adoptou as tendências, e da falta de reconhecimento do público e sobretudo dos críticos. 

Cristina Carvalho descreve magistralmente o olhar intenso, perturbador e apaixonado de Modi e sobretudo a sua alma simples e elevada, mas também inconstante. A busca do belo e da perfeição são uma constante na sua curta e intensa vida apesar do desprezo a que era votado. 

Já li muitos (quase todos) livros de Cristina Carvalho e considero este como sendo um dos melhores. A sua escrita consegue integrar-nos emocionalmente na narrativa: vivemos as doenças, os vícios, as dificuldades e as paixões arrebatadoras de Modigliani. Quando isso acontece, estamos perante um grande livro.



07 agosto, 2018

O Leitor do Comboio de Jean-Paul Didierlaurent




Livro delicioso que, com uma escrita simples, levanta algumas questões interessantes como a importância da leitura em voz alta e o destino dos livros que não são vendidos pelas editoras. 

Guylain Vignolles, personagem discreta e simples, trabalha, sob vigilância do seu patrão através de várias câmaras, numa fábrica que destrói livros. É ele o responsável pela manobra e manutenção da Zerstor 500 (A Coisa). O trabalho é aborrecido e Guylain não gosta do que faz. O único momento de satisfação, apesar do perigo que corre, é quando faz a limpeza da Coisa pois permite-lhe recuperar as páginas soltas que não são destruídas e guardá-las para si. Estas serão objecto de leitura nas viagens de comboio de casa para o emprego, em voz alta. 

Um dia, no lugar que habitualmente ocupa no comboio, encontra uma pen que contém vários documentos que relatam o dia-a-dia de uma empregada de limpeza. Este facto vai alterar o teor das suas leituras e o rumo da sua vida.